A Companhia das Letras acaba de lançar uma pela edição do livro “Assim foi Auschwitz” que reúne textos do italiano Primo Levi que era um químico de apenas 24 anos quando foi capturado pelas forças fascistas italianas e deportado para o campo de concentração de Auschwitz, a fábrica da morte construída pelo regime nazista para executar judeus, homossexuais, comunistas e ciganos.
Em 1945, após sua libertação, militares soviéticos encarregaram Levi e outro prisioneiro, o médico Leonardo De Benedetti, de elaborar um relatório detalhado sobre as abomináveis condições de saúde dos campos. O resultado foi o “Relatório sobre Auschwitz”, um testemunho extraordinário e pioneiro dos campos de concentração, e ainda hoje uma peça impressionante a respeito da prática clínica num lugar de desumanização e extermínio. Detalhes escabrosos, escatológicos e aviltantes a respeito do cotidiano de médicos, enfermeiros e pacientes são apresentados numa prosa sóbria, cristalina e antissentimental. Publicado em 1946 numa revista científica, o relato inauguraria o trabalho de Primo Levi como escritor – sua estreia oficial se deu no ano seguinte, com É isto um homem?.
Nas quatro décadas seguintes, Primo Levi nunca deixaria de contar a experiência em Auschwitz em textos, a maioria inédita em livro, agora recolhidos neste volume. São relatos, depoimentos, cartas e comentários, publicados quase até as vésperas da morte de Levi, em 1987. Invocam, com o poder do testemunho e a desconcertante claridade de sua prosa, a agonia de milhões de pessoas que experimentaram o inferno em um sistema diabolicamente concebido para espoliar do homem tudo o que ele tem – seu corpo, sua esperança e, por fim, sua própria vida.