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CARNAVAL POLITICAMENTE CORRETO - Revista Publicittà CARNAVAL POLITICAMENTE CORRETO - Revista Publicittà

CARNAVAL POLITICAMENTE CORRETO

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O carnaval politicamente correto, da boca para fora ou da boca para dentro, invade as redes sociais e provoca mudanças no mundo da publicidade e propaganda. Campanhas desaparecem do dia para noite, como a do Ministério da Justiça. A sopa Vono, aquela fácil de preparar com água fervente, busca colocar em banho-maria, o caldo que esquentou em torno do humor ao qual recorreu para falar da indecisão das mulheres, tão notória quanto perceptível, enquanto a cerveja Skol, que se deve tomar gelada, busca se esquivar da frase pronta que levou para o mobiliário urbano diante de críticas.

O carnaval do politicamente correto está mais para quarta-feira de cinzas do que qualquer outra coisa e mostra o despreparo dos anunciantes e das suas agências de publicidade em lidar com as redes sociais.

No cenário atual da comunicação, até as áreas da cultura e o do entretenimento, sempre defensoras da liberdade de expressão, estão acuadas diante daqueles que, abusando da autoridade recém conquistada, consideram livros que retrataram o Brasil e os brasileiros – preconceituosos que são – como candidatos à fogueira de uma inquisição absurda no afã de determinar o que pode e deve ser lido. E, assim, excluindo das estantes aquilo que consideram preconceituoso, muitas vezes sem ler e entender a obra, mas pelo simples fato de determinar o que deve ou não ser lido pelos outros aos quais não nutrem o menor respeito.

O problema que se apresenta nos dias que correm é que tais autoridades de ocasião acham que abolindo tais livros, abolem o preconceito ainda que criando um pré-conceito tão equivocado quanto e que impede, inclusive, às novas gerações fazerem suas escolhas e seus juízos de valor e, assim, conquistarem uma consciência mais clara em relação ao passado, o presente e o que desejam para futuro, sem imposições. E, claro, sem as fogueiras da ignorância acesas sempre pelos ignorantes e que prometem até acabar com todos os males dos que levam a lenha para, na forma de dinheiro, financiar seus espetáculos espetaculosos.

Convivemos ainda hoje com fábulas e parábolas nas quais antigos tribos eram alertadas para os perigos da vida, tanto pior que cresce também o número daqueles que levam tais fábulas e parábolas ao pé da letra, como se precisassem de incautos “pastores” de ocasião para guiá-los, “ovelhas” que são. Tais “pastores””vendem” que só eles sabem fazer a leitura correta do que representam essas fábulas e parábolas. É uma forma de ganhar dinheiro certamente, e tão fácil quanto obscura tanto quanto as fogueiras que transformam a vida em cinzas. Não se pode deixar de pontuar, no entanto, que são lucrativas essas fogueiras a ponto de se acenderem a todo momento em lugares onde antes se respirava o ar menos poluído dos cinemas e dos teatros, vendedores de fantasias de fato.

Bastou o Ministério da Justiça criar no ambiente digital do Facebook campanha em que procurava reforçar o bordão “Bebeu, perdeu!”, uma realidade concreta da vida, para vozes, em nomes das mulheres do Brasil, se levantarem acusando a campanha de estimular o machismo e o bullying, como se também aquele lugar masculino do bêbado tivesse dono. O recado de duas amigas no seu celular, passado pela imagem e a frase de arremate do texto publicitário: “Bebeu demais e esqueceu o que fez? Seus amigos vão te lembrar por muito tempo” gerou polêmica. Afinal, era machista e se fosse o contrário seria feminista?. Um homem e dois outros no celular e a mesma frase teria problema?

O Ministério da Justiça, na dúvida, retirou a campanha da rede social e ainda publicou um pedido de desculpas pelo “equívoco”:

“A campanha #BebeuPerdeu é muito mais do que isso. Nós nos equivocamos com a peça. Ela tem o objetivo de conscientizar jovens até 24 anos sobre os malefícios do álcool. Atuamos em políticas públicas em conjunto com a Secretaria de Políticas para a Mulher (SPM) contra a violência doméstica, o feminicídio e outras formas de violência contra a mulher. Pedimos desculpas pelo mal entendido e ao mesmo tempo contamos com a colaboração de todos na campanha”.

A SLA Propaganda é a agência criou a campanha para o Ministério da Justiça, mas ambos, tanto agência como anunciante, não peitaram a campanha e deveriam ter peitado. Faltou peito. Mais uma vez, as trevas venceram quando a campanha poderia realmente criar e despertar consciência num debate um pouco menos restrito do que daqueles que sabe-se lá são mesmo formadores de opinião.

A sopa Vono, da Ajinomoto do Brasil, que usou de humor para uma campanha também retirou a sua do ar depois de algumas reações contrárias. Afinal, mulheres sempre sabem onde estão as coisas em suas bolsas, nunca são indecisas, entram em lojas de roupas e calçados e sabem exatamente o que querem; nunca experimentam tudo e, é claro, nunca olham para a cor dos cabelos da amiga e nunca trocam de cores de cabelo e esmalte porque viram outra usando algo novo. Afinal, elas são absolutamente precisas em tudo o que fazem, nunca indecisas. Elas nunca perguntam nada e elas mesmo respondem e ainda ficam chateadas, claro que não.

Portanto, a campanha era uma afronta, a brincadeira que se pode comprovar em todo e qualquer lugar não tinha fundamento. E, em um tom constrangido, a marca informou em relação às postagens que a Ajinomoto Brasil, empresa proprietária de Vono, esclarecia que “se trata de uma peça publicitária que recorre ao humor, sem a intenção de julgar homens e mulheres”. E lamentou o ocorrido se desculpando, aquela regrinha básica de qualquer manual ralo de crise, pois no ambiente corporativo tal reação é vista como crise, como algo que pode atingir a reputação e imagem da empresa e nem importa se o internauta ou internautas que lançaram a crítica têm credibilidade para tal.

A crise se tornou realidade. Restou à Ajinomoto recorrer ao politicamente correto que respeita a igualdade de gêneros. Claro, e a partir daí, nenhuma mulher vai ser perder mais dentro das suas bolsas para procurar, por exemplo, as chaves e nunca fará uma pergunta para ela mesma responder e ficar irritada, jamais. Está tudo resolvido. Era só uma brincadeirinha; não uma verdade que desperta risos justamente por ser verdade.

Já Skol, marca da AmBev, por meio da ousadia e do bordão carnavalesco criado pela F/Nazca vive o mesmo drama por ter ocupado o mobiliário urbano de cidades carnavalescas com a frase: “Esqueci o ‘não’ em casa”. Pri Ferrari, uma usuária como tantas do Facebook, encontrou um desses anúncios na rua e fez, digamos uma intervenção artística com fita adesiva escrevendo “E trouxe o nunca”.

Depois, é claro, compartilhou a brincadeira no Facebook com o texto: “A “maravilhosa” Skol decidiu fazer uma campanha de carnaval espalhando frases que induzem a perda do controle. “Topo antes de saber a pergunta” “esqueci o não em casa” são alguns exemplos. Uma campanha totalmente irresponsável, principalmente durante o carnaval que a gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba. Eu e @sugarmila decidimos fazer uma pequena intervenção. Amigos publicitários, vocês precisam ter mais noção e respeito. #feminismo #respeito #estuproNAO”.”

Como a publicação foi ganhando compartilhamentos e milhares de curtidas, a Skol, também recorreu ao seu manual de crises, para divulgar o posicionamento da marca, declarando que a campanha tem como mote aceitar os convites da vida e aproveitar bons momentos. Foi mais sensata, mas avisou, porém, que irá trocar as frases para deixar mais claro o seu compromisso com o consumo responsável. A vida perdeu vida.

Esses exemplos e os que estão por vir, diante das agências e dos gestores das marcas que se veem numa verdadeira crise diante de tais intervenções, revelam apenas o despreparo para lidar com redes sociais por parte de anunciantes e agências, temorosos de que a “crise” (por onde anda a crise?) se espalhe. Afinal, com os veículos tradicionais em clara e notória decadência, fruto da irresponsabilidade de fugirem da responsabilidade de informar com imparcialidade os fatos, as redes sociais ganharam mais visibilidade. Só que é preciso perceber – o mais rápido seria melhor – que as redes sociais não são como os intransigentes veículos tradicionais que julgam ter credibilidade até para excluir a informação e publicar apenas os interesses. As redes sociais são abertas e podem provocar o debate e até reforçar os bordões apressadamente excluídos por meio de outros internautas.

Será que não conhecemos mulheres indecisas? Será que muitas não brincam em rodas de amigos com suas indefinições? Será que quem bebeu demais não se perdeu? Será que no carnaval não deixamos o não em casa? Não, claro que não. O verbo deve ser o intransitivo, o imperativo, afinal todos somos perfeitos e, a partir desse carnaval, nunca mais vamos brincar com os nossos defeitos e menos ainda com nossas qualidades. Essa tendência vai prevalecer e, em breve, seremos todos uns chatos, de galocha mesmo ainda que enfrentando a escassez de chuva e a secura dos reservatórios de água. Parem o mundo, que eu quero descer e tomar um porre de felicidade, enquanto ainda posso. E com cerveja, é claro, e me perdendo como tudo que se perde em bolsa de mulher; depois, com uma sopinha que não dá muito trabalho, repor a energia e brincar de novo, sem fazer perguntas para dar respostas e eu mesmo me irritar com elas. A vida é bem mais simples: o chato são os chatos, os politicamente corretos que querem fazer dela um inferno em vida para terem certeza, talvez, da paz após a morte. Prefiro a paz da alegria em vida! Afinal, é carnaval!

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