Dois grandes bobos. Foi assim que o também auto-intitulado bobo Paulo José apresentou Mário Bortolotto e Bosco Brasil. No encontro Sem Dramas, como sugeriu o nome da penúltima mesa, às 19h do domingo, descontração, risada e cumplicidade marcaram o papo dos dois dramaturgos e do ator, uma lenda viva do teatro brasileiro.
Paulo José iniciou abriu a mesa com um texto de Clarisse Lispector, sobre a bobice. O bobo tem tempo para ver, ouvir e olhar o mundo. Vê coisas que os espertos não vêem… E aqui somos todos bobos, emendou o ator.
Bosco Brasil fez em seguida uma leitura inédita de sua peça Cheiro de Chuva, que será publicada nos próximos meses. Mario Bortolotto convidou Paulo José para fazer a ler sua peça Saint Christmas. A dupla levou o público às gargalhadas nos papéis de Marcos e Emerson um dos homens visita o outro depois que a namorada o pagou para sair de casa. O diálogo é de uma riqueza trivial.
Paulo começou a tergiversar sobre o teatro, falou dos textos remexidos de Shakespeare, da rigidez do teatro francês de Molière e do espaço estático do palco italiano. Perguntou a Bortolotto o que ele achava deste tipo de palco clássico, ao que o outro com solene ironia respondeu: Na qualidade de autor pós-moderno….. A platéia caiu na risada antes da conclusão de Bortolotto, que revelou sua preferência por espaços cênicos fechados, silenciosos. Eu odeio teatro interativo, do tipo do Zé Celso (Martinez), disparou.
Paulo José: - Dá um medo né, o ator vem vindo, se aproximando…..
Bortolotto: – O pior é quando o ator vem e senta no seu colo…, disse, arrancando risos.
Paulo José: - E você, o que pensa desta questão de palco, Bosco?.
Bosco Brasil: Olha Paulo… o que eu posso dizer é que diante da dificuldade que o teatro vem apresentado nos últimos anos, nos últimos cinco mil anos aliás…. (risos)… bem, a gente tem de tomar vários espaços.
O mediador falou que o tipo de palco depende muito da demanda do público. Nos anos 60, o teatro de Arena tinha uma linguagem voltada para os universitários, explicou e foi replicado por Bortolotto: Eu não penso em nada. Antes diziam que eu escrevia teatro de jovem, acho que é porque eu era jovem. Agora que estou mais velho estou escrevendo peça para gente mais velha, disse.
O público depois perguntou qual o papel que Nelson Rodrigues tinha na obra de cada um. Tem um papel sim, respondeu Bosco. Mas ele acaba chegando por outras vias. Nós somos de uma geração pop, que absorve de tudo um pouco, disse.
Depois de conversarem sobre o aspecto naturalista do teatro. Bosco disse que o verdadeiro não é verossímil. Paulo José acrescentou que um personagem tem mais verdade que qualquer ser humano.
Por fim o mediador anunciou: Olha… eu recebi um bilhete aqui dizendo que é para eu fazer a última pergunta para o Bortolotto… mas eu vou fazer diferente. Bortolotto, faz você mesmo a pergunta para você.
- Eu?, perguntou.
- Sim, pergunte o que você quiser, disse Paulo.
Ah… vá se f— Paulo. Eu não quero perguntar nada. Eu quero só vender o meu livro que está aqui na minha mala. Eu sou escritor, disse Bortolotto. Segundo ele, as pessoas pensam que dramaturgo é marido da Malu Mader.