Os pássaros não faltam! Todas as manhãs, empoleirados nos galhos das árvores frutíferas do pequeno pomar do quintal vizinho, eles marcam presença com um harmonioso canto, que inspira o grupo de publicitários que trabalha, por ora com toda a discrição do mundo, nos fundos de uma ampla casa de estilo contemporâneo, protegida por muros altos e incrivelmente brancos, no no 1.282 da bucólica e arborizada rua Natingui, na intelectual e boêmia Vila Madalena.
Marcelo Camargo, Marcelo Siqueira e Maurício Mazzariol, todos ex-criativos da DM9 até provas em contrário, ainda adorados pelo Nizan -, aliados ao também publicitário Yan Von Brewer ex-Draft e Lowe – não raro quebram o silêncio do lugar e abafam o doce canto dos pássaros em discussões acaloradas para fechar o conceito e dar retoques finais à cara da BIGMAN, agência de comunicação que recém criaram e que apresentarão ao mercado na próxima semana.
Dessas discussões, às vezes tensas e outras até muito engraçadas, já saiu o conceito principal da BIGMAN que não é novo todos eles concordam porém também não é lá praticado na sua real e total abrangência eles concordam nisso também. Puxa!-: a BIGMAN é uma agência de soluções multidisciplinares que entregará o que de fato promete aos clientes.
Yan Von Brewer, figura experiente, que já viu essa história multidisciplinar ser lançada com roupagem e cores distintas por várias vezes ao longo do tempo, justifica com todas as letras o conceito da agência: A BIGMAN apresenta uma proposta nova e moderna de trabalho, na qual a comunicação é entendida como algo único e precisa ser tratada como tal. Sua equipe é enxuta, mas completa no sentido de proporcionar as soluções ideais para seus clientes, ou melhor, parceiros.
Marcelo Camargo mais observa do que fala, mas quando expressa seu ponto de vista, o faz com uma contundência que, para quem não o conhece, pode pensar que está ditando uma ordem. A BIGMAN vai produzir soluções e não importa se por meio de um anúncio, ação promocional ou mesmo apenas uma solução de RP. Na BIGMAN o cliente vai ter, efetivamente, a sua necessidade atendida, afirma tão enfaticamente que um pequeno grupo dos pássaros que faz cantoria no quintal vizinho ensaia uma ligeira e barulhenta revoada.
Ao que parece às discussões do grupo de publicitários, que tanto impacienta os pássaros, estão produzindo resultados. Aqueles tons acima da linha, os olhares contrariados e os palavrões suavemente pesados não contundiu gravemente nenhum ego. Tanto que os avanços já podem ser percebidos na definição do conceito da agência: A BIGMAN é uma agência de comunicação multidisciplinar, de corpo, alma e, sobretudo, coração, que entrega verdadeiramente aos clientes soluções eficientes que agregam valor efetivo aos seus negócios.
Marcelo Siqueira acha também que é por aí, é esse o caminho, mas ele quer saber ainda se a agência deve se apresentar como pequena, que vai se alimentar de clientes para crescer ou, como definiu uma vez Maurício Mazzariol, lá trás, no princípio destas discussões, BIGMAN – a sua primeira pequena grande agência.
Opiniões são expostas, assim com a percepção de cada um sobre agência grande e agência pequena, vantagens e desvantagens. De repente alguém – não foi possível perceber com exatidão, pode até ter sido um consultor qualquer que estava no lugar diz que a BIGMAN terá o tamanho exato que o cliente desejar. Ninguém opinou sobre esta sugestão, mas parece ser interessante….
O clima está quente. A sala não tem ar condicionado. Os publicitários falam pelos cotovelos. Eis então que surge, vindo da ampla sala que recepciona os convidados, rompendo o espaço vazio que deveria pertencer a uma porta, Amador Bueno Camargo, criativo financeiro e ex-chairman da Young & Rubican do Brasil. Yan segue fumando é o único que ainda não largou o vício – e fazendo não se sabe o quê no seu laptop; os Marcelos e Mauricio se calam, assim como os consultores presentes que, como ninguém, sabem qual o melhor momento de permanecerem de bico calado.
O criativo financeiro revela, com naturalidade e nenhum traço de soberba, que a BIGMAN vai renovar o pacto empresarial hoje existente entre os clientes e as agências. Os clientes tratam as agências de comunicação como se fossem fornecedores de pregos, afirma. O executivo pede desculpa aos fornecedores de prego (nada contra eles!!) e prossegue: A comunicação mexe com o sentimento, com a emoção, por isso nossa relação com o cliente deve ser mais íntima, como se fossemos um departamento interno.
Camargo, quem o conhece sabe que seus pés estão sempre bem fincados no chão, não nega o seu entusiasmo pela BIGMAN, por isso se permite soltar levemente as suas amarras para se alongar, vibrantemente, no discurso. Queremos trabalhar preferencialmente com um fee mensal ou, então, com o sistema de succes fee, métodos de remuneração que nos parece mais justo tanto para agência como para o cliente, embora não desprezemos o já nem tão popular BV. Essa é uma discussão para as partes, mas consideramos que deve ser exposta agora, que estamos colocando a BIGMAN no mercado, explica.
Paulinha, assistente e colaboradora indispensável do lugar, adentra o recinto e oferece água e café. Um dos consultores aceita (ele aceitou todas as vezes que o café foi oferecido), os outros presentes recusam. As caras de tédio e o saco cheio já não suportam disfarces. Tão estampadas!
Os pássaros já encerraram o expediente. Os publicitários seguem trabalhando, mas já sem forças para prosseguirem discutindo caras e conceitos. Ian abraça com a mão o box de Marlboro e o seu moderníssimo blackberry e se vai para voltar com gás renovado para o dia seguinte. Camargo vai e volta ela mora ao lado da agência mas sem deixar de pensar undécimo de segundo na BIGMAN solta na rua.
Antes de fechar a porta, apagar a luz e encerrar o dia, Paulinha avisa o grupo: Amanhã chego cedo para preparar o café e dar os últimos retoques na sala de reunião. O cliente chega às nove!
O quê?! A BIGMAN já tem cliente?!
Essa agência é GRANDE mesmo!