Provocador, irreverente, culto, um dos primeiros artistas brasileiros a introduzir nos palcos os métodos de Bertolt Brecht e Roger Planchon, o apresentador de “Provocações”, Antônio Abujamra, da TV Cultura, partiu hoje para o Reino da Pásargada de Manuel Bandeira deixando-nos órfãos da sua brilhante inteligência e capacidade de reflexão. Fica o legado, com o qual, em forma de poemas é possível conferir em vídeo. Uma herança crítica de inequívoca qualidade, um legado para a posteridade.
Antônio Abujamra, o Mestre Abu dos palcos teatrais, nasceu na pequena cidade de Ourinhos, no interior do Estado de São Paulo, em 15 de setembro de 1932. Formou-se em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em Porto Alegre, em 1957, de onde saiu para iniciar atividades como crítico de teatro, fazendo paralelamente suas primeiras incursões nos palcos em obras como “Assim é se lhe parece”, de Pirandelo e, desde então no Teatro Universitário de Porto Alegre passou a dedicar-se à direção tanto quanto a atuação em textos como “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa; “À Margem da Vida” e “O Caso das Petúnias”, de Tennessee Williams; “A Cantora Careca” e “A Lição”, de Eugène Ionesco; e “Woyzeck”, de Georg Büchner.
Em 1962, Abujamra chega a São Paulo, então meca das grandes montagens teatrais e de grandes grupos, estreando na direção profissional com o texto “Raízes”, de Arnold Wesker, depois com “José, do Parto à Sepultura”, de Augusto Boal, no Teatro Oficina, nascedouro de movimento que revelaria grandes nomes da dramaturgia. Na sequência acabaria por estabelecer uma parceria de década com Rut Escobar ao dirigir, em 1962, “Antígone América, de Carlos Henrique Escobar.
Dos palcos para a TV Tupi, foi tudo muito rápido. Abujamra assim foi deixando sua presença nas diversas plataformas do ator, também no cinema. Nunca mais saiu dos palcos e da direção de espetáculos, com participação marcante em novelas, filmes e montagens.
Desde 2000, comandava o programa Provocações, na TV Cultura. Provocador irá certamente entrevistar aqueles que vivem hoje no Reino da Pásargada. Sua morte deixa a cultura brasileira mais pobre, mas também um legado vigoroso, uma fortuna crítica da qual destacamos nessa homenagem apenas alguns itens para trazê-lo de volta ao território da memória, assim como os vídeos de Provocações, onde exercia a sua arte interpretando vigorosamente poemas clássicos:
Na televisão
Como diretor
1968 – O Estranho Mundo de Zé do Caixão – TV Tupi
1968 – Nenhum Homem é Deus – TV Tupi
1978 – Salário Mínimo – TV Tupi
1979 – Gaivotas’ – TV Tupi
1980 – Um Homem Muito Especial – TV Bandeirantes
1981 – Os Imigrantes – TV Bandeirantes
1981 – Os Adolescentes – TV Bandeirantes
1982 – Ninho da Serpente – TV Bandeirantes
1997 – Os Ossos do Barão – SBT
Como ator
1967 – As Minas de Prata … Frazão
1987 – Sassaricando … Totó
1989 – Cortina de Vidro … Arnon Balakian
1989 – Que Rei Sou Eu? … Ravengar
1992 – Amazônia … Dr. Homero Spinoza
1993 – O Mapa da Mina … Nero
1995 – A Idade da Loba … Piconês
1997 – Os Ossos do Barão … Sebastião
1999 – Andando nas Nuvens … Álvaro Luís Gomes
1999 – Terra Nostra … Coutinho Abreu
2000 – Marcas da Paixão … Dono Do Cassino
2004 – Começar de Novo … Dimitri Nicolaievitch
2009 – Poder Paralelo … Marco Iago
2011 – Corações Feridos … Dante Vasconcelos2
No cinema
1989 – Festa, com direção de Ugo Giorgetti
1989 – Lua Cheia, com direção de Alain Fresnot
1990 – Os Sermões – A História de Antônio Vieira, com direção de Júlio Bressane
1991 – Olímpicos, com direção de Flávia Moraes
1992 – Atrás das Grades, com direção de Paolo Gregori
1992 – Perigo Negro, com direção de Rogério Sganzerla
1993 – Oceano Atlantis, com direção de Francisco de Paula
1995 – Carlota Joaquina, princesa do Brazil, com direção de Carla Camurati
1996 – Quem matou Pixote?, com direção de José Joffily
1996 – Olhos de Vampa, com direção de Walter Rogério
1998 – Caminho dos Sonhos, com direção de Lucas Amberg
2000 – Villa-Lobos – Uma Vida de Paixão, com direção de Zelito Viana
2005 – Concerto Campestre, com direção de Henrique de Freitas Lima
2005 – Quanto vale ou é por quilo?, com direção de Sérgio Bianchi
2008 – É Proibido Fumar, com direção de Anna Muylaert
2010 – Syndrome, com direção de Roberto Bomtempo
2011 – Assalto ao Banco Central, com direção de Marcos Paulo
2013 – Babu – A Reencarnação do Mal, com direção de Cesar Nero
2012 – Brichos – A Floresta é Nossa