Estou engasgado com a estória que minha empregada me contou. O sobrinho dela “ficou” com uma garota no baile funk sem saber que a moça era uma das mulheres do dono da favela. Bastou isso para ele morrer. Nem o corpo o pai do rapaz encontrou. “Um menino bom. Na Marinha. 23 anos.” O dono do morro ainda recebeu o pai, que foi lá implorar pelo corpo do filho. O bandidão foi “bonzinho” com ele. Disse que era só ele calar a boca que não morria também. Meu médico me deu só seis meses de vida. Vou atrás deste tal de “dono do morro”. Não tenho nada a perder. Quero vingar a morte do rapaz.
Por mais incrível que pareça, chamava-se Hitler. Hitler de… sei lá. Pelos meus cálculos, devia ter nascido antes de o Brasil entrar na Guerra. E seus pais nem precisavam ter sido nazistas. Talvez o nome apenas lhes tivesse soado forte, exótico. Hitler, funcionário da Casa José Silva, era muito amigo do tio Salviano e sempre vinha com ele à nossa casa de Itacuruçá. Ele estava voltando da pesca de siri com tio Salviano. Foi de repente. Agarrava-se aos braços da esposa. Não conseguia falar. Ela gritava. Hitler enfartando no chão de caquinhos vermelhos ao lado do balde com água do mar e meia dúzia de siris ainda vivos…