Não é porque sempre tenho horríveis pesadelos onde estou perdido num país estranho que vou parar de viajar ao Exterior. Na verdade, até que me perco pouco. Mas odeio quando isso acontece. Quando me perco, fico paralisado de terror. E começo a achar que todos os detalhes dos meus pesadelos vão se tornar reais. Por isso prefiro ir sempre à mesma cidade. Em agosto irei pela sétima vez a Ulm. Conhecem Ulm? É uma cidade bem pequena. Até o nome é curtinho. Lá corro menos risco de me perder.
Vocês já devem ter sentido nossa presença. Somos a Trupe do Esbarrão. Atuamos em toda a cidade em busca de contato físico. Às vezes derrubamos seus pacotes, às vezes seus sorvetes. Nos coletivos, pisamos em seus pés. Nos supermercados, estouramos suas varizes com nossos carrinhos. Nossas mulheres usam as maiores bolsas que existem e passam pelos corredores dos ônibus arrastando tudo o que encontram pela frente. Reunimo-nos semanalmente num local secreto para saborear nossos feitos e rir de nossas vítimas. Principalmente aquelas que acabaram de fazer as unhas.
Paulinho tem tanto ciúme da esposa que decidiu se tornar “dono de casa”. Ele acha que o ambiente doméstico é muito mais vulnerável às investidas de um Ricardão do que os escritórios. Então é ali que ele tem que ficar: em casa. Agora quem sai para trabalhar é a mulher. E ela aparentemente gostou tanto de ter um emprego que está fazendo hora extra todo dia. Paulinho já está ficando meio desconfiado…