“SEM PRECONCEITO” SEGUNDO FREDERICO DALTON

Não quero ter nenhum preconceito contra meu professor. Não quero pensar que ele sempre me ouve “entendendo” bem minhas limitações, ou, na melhor das hipóteses, avaliando meu potencial. Não quero prever uma longa preleção depois de seu silêncio atento, nem imaginar que ele me tratará eternamente como aluno. Quero, sim, acreditar que nosso caso de amor nos delegará uma missão totalmente nova, onde saber ou não saber seja totalmente irrelevante.

 

O que pensar de um homem que te convida para tomar um “chope de vinho”? Sim, por incrível que pareça, esta bebida existe. E existe também um homem que convida uma mulher para bebê-la como pretexto para iniciar um caso de amor. E existe, por último e mais surpreendentemente, uma mulher que aceitará este convite. Esta mulher sou eu. Porque me cansei de me garantir no crível e no convencional. Cansei-me de meus preconceitos e de minha solidão. Quero provar este tal de chope de vinho. Porque hoje é sábado.

 

“Não tenha preconceito contra os jovens”, disse minha consciência quando cancelei a primeira consulta com o psicanalista porque soube que ele tem menos de trinta anos. Mas eu tenho meus motivos. Sim, todos os meus problemas vêm de relacionamentos complicados com “jovens”: meus filhos que não me entendem, meus alunos que não me respeitam, meu último namorado, que tem a idade do meu filho. Pode ser preconceito. Mas quero um analista mais velho. Até porque me disseram que o dito cujo é lindo.