Eu pensava que só eu tivesse uma caneta espiã. Mas quando entrei no quarto, vi que há uma plugada no computador da minha esposa. Então, a questão agora é: onde está minha mulher? Talvez atrás de mim, me apontado uma arma, depois de ter assistido as imagens da minha traição? Ou, quem sabe, do outro lado da janela aberta, caída na calçada, doze andares abaixo? Não toco em nada e consigo descer ileso para a garagem. Nenhum sinal dela. Entro no meu carro. É de dentro dele que controlo as câmeras que escondi no apartamento.
Nos anos sessenta, quando eu era criança, um anúncio de TV prometia que, se você achasse a chave de um Fusca num sabonete Gessy, o carro seria seu. Nunca conheci quem tivesse sido contemplado, mas isto me marcou muito. Até hoje, de certa forma, vivo esperando encontrar “um prêmio dentro de um sabonete”. Por exemplo, tenho a esperança de que, se eu viver intensamente e morrer bem velho, talvez eu encontre, dentro de mim mesmo, a chave para o sentido da vida.
Juliana não é nenhuma “Maria Gasolina”. Mas quando Murilo lhe disse que tinha um Citroën C3, ela imediatamente concordou em sair com ele. É que seus últimos relacionamentos foram com homens muito agressivos: João Paulo Ford Ranger, Renato Volkswagen Amarok Barbada e Gustavo Nissan Frontier Attack. Como Juliana ouviu dizer que Citroën C3 não é carro de macho, ela acha que agora vai ser feliz.