REDENÇÃO SEGUNDO FREDERICO DALTON

Estou namorando um cara 25 anos mais jovem. Mas ele é tão pessimista a respeito do futuro da humanidade quanto eu. Que pena. Porém, pelo menos em relação ao nosso namoro não fazemos previsões. Não tememos nada. Não nos angustiamos. Vivemos apenas o presente. E somos felizes assim.

Por causa da tristeza que as notícias estavam me causando, há um mês decidi nunca mais ler jornais. Mas fui convidado para uma festa no próximo sábado. E agora estou preocupado: sobre o que vou poder conversar? Sobre a minha ignorância? Bem, quem sabe eu me torne até mais interessante por não saber de nada. Ótimo! Mal posso esperar pelas festas que frequentarei daqui a cinco anos.

 

Eu estava tão triste que até as bancas de jornal pareciam me pedir socorro. Elas suplicavam: “Estamos condenadas ao desaparecimento, o mesmo fim que tiveram o mata-borrão, o papel-carbono, as escarradeiras e os carvoeiros”. Os orelhões também pareciam agonizar, intoxicados pela pouca sutileza dos panfletos colados dentro deles. Mas ontem você me mandou um Whatsapp pedindo desculpas e me chamando para conversar. Então o mundo todo se tornou eterno.