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O queijo tombado

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Jorge Wamburg
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O queijo artesanal produzido na região das serras da Canastra, do Salitre e do Espinhaço, em Minas Gerais, foi declarado Patrimônio Imaterial Brasileiro porque, muito mais do que alimento, é uma herança cultural importante, que chegou ao Brasil nos primórdios do século 18, trazido pelos portugueses. Era produzido na Serra da Estrela, que tem muitas semelhanças com as de Minas.

Esta é a explicação da conselheira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Ângela Gutierrez. “Este queijo atravessou os séculos sendo feito da mesma forma, com os mesmos detalhes com que era feito no início do século 18. Sobreviveu a tudo e está aí para testar a nossa raiz cultural”, afirmou em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília, para comentar a decisão anunciada na última quinta-feira (15), após um estudo demorado.

O título não muda nada, nem pode mudar, no queijo “produzido com leite cru, coalho e pingo”, explica a conselheira. O que muda “é a condição do produtor de apresentar um produto que tem o reconhecimento do Iphan. É a segurança do comprador, de que está comprando mais do que um produto alimentício, está comprando a tradição. E a indústria de laticínios tem salvaguardas próprias para este tipo de queijo artesanal. O que muda é principalmente nesse sentido: mais segurança, mais garantia e cultura”.

Ângela Gutierrez ressalta que o segredo da produção artesanal do queijo Minas foi passado “de pai para filho, de avô para neto, de uma maneira doméstica absolutamente informal, e permaneceu. Nada modificou esse modo de fazer e, pensando bem, ele engloba também um modo de viver, porque o queijo nessas regiões de Minas Gerais era consumido no café da manhã, no almoço, no lanche da tarde, na janta, como se fala nessa região. Ele foi sobrevivendo desse modo, sem registro, sem nenhuma bibliografia, e também numa região onde havia muita simplicidade por parte das pessoas que o faziam”.

A conselheira destaca ainda que “esse queijo se incorporou à vida do mineiro de uma maneira incrível e, por isso, o Patrimônio Imaterial Brasileiro precisa incorporá-lo ao seu campo de ação”. Sobre a importância do produto na história do estado, ela conta que, no princípio do século 18, houve uma enorme migração de trabalhadores para as minas, por causa do ouro e depois das pedras, sobretudo de portugueses. “E essas pessoas precisavam se alimentar. Então, o queijo veio com a necessidade de se produzir um produto que, com a salga, conseguia se manter durante um bom tempo”.

Além disso, segundo ela, eram feitos queijos pequenos, durinhos, chamados de “merendeiros”, levados pelos mineiros para as lavras de minério e pedras e que duravam o dia inteiro.

Ângela Gutierrez destaca ainda a importância de proteger o queijo Minas com o selo do Iphan, para evitar que outros países tentem se apropriar dele, como o Japão tentou fazer com o cupuaçu. “O selo atesta que é um produto nosso e o Brasil finalmente está abrindo os olhos para a importância da preservação de suas raízes culturais. Porque se nós não preservamos, alguém o faz por nós e aí vira dono”.

Sobre a possibilidade de o pão de queijo, outro produto tradicional de Minas, vir a ser também considerado patrimônio imaterial, ela diz que é uma questão para o futuro. Mas lembra que “este queijo que foi registrado pelo Iphan é o queijo firme, ralado, que vira quase uma farinha, é curado e é com ele que se faz o famoso pão de queijo. O primórdio do pão de queijo está registrado. Vamos ver o que vem pela frente”.

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