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Lições universais

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CARLOS FRANCO

Um físico e um português passavam por um botequim e, lá dentro, deram de cara com o buraco negro, que bebia sem parar. O físico ao perceber a presença do buraco negro, saiu depressa, de fininho. Já o português ficou encantando com aquele ser disforme, que bebia tudo e parecia inconsolável, mas ao mesmo tempo firme, sóbrio. Não resistiu e disse para o buraco negro que este o encantava e se poderia ficar ali junto dele. O buraco negro sorriu e respondeu: “Todos dizem isso até sumirem para sempre”.

A piada criada pelo físico Marcelo Gleiser tem o objetivo de ilustrar, de forma popular, um dos conceitos universais, o do buraco negro. O carioca Gleiser, nascido em 19 de março de 1959, está convencido de que, com piadas e uma pitada de humor, é possível falar de física e ciência. E atribui a essa didática o sucesso de sua carreira profissional. Pondera que para gostar de uma bela sinfonia de Mozart, por exemplo, não é preciso saber ler a partitura, mas apenas ouvi-la. Da mesma forma, para entender de ciência, de física, não é preciso ser um devorador e decorador de fórmulas matemáticas, basta sentir. Deu alguns exemplos. Até divertidos. Quando subimos mais alto num elevador, por exemplo, nos sentimos mais pesados. E brincou que quem mora mais alto, no 15º andar, como eu, está mais distante da gravidade e envelhece mais rápido. Já estou pensando em me mudar para o primeiro andar.

E foi com histórias simples que Gleiser foi encantando a seleta platéia que lotou na noite de segunda-feira, dia 4, o auditório da MPM para a quarta palestra da série Cases que Inspiram – Bebendo de outra fonte. Ele falou do universo, do nosso delicado equilíbrio de vida. Dos riscos a que estamos expostas. E um capaz de assustar: dentro de 1,5 bilhão de anos, o sol deve esquentar 12% e a Terra não será mais habitável. Nada com que se preocupar 1,5 bilhão de anos é tempo demais e todos seremos pó. Mostrou como a ciência evoluiu de um modelo geocêntrico – o mundo a partir do centro da terra, no qual ficava também o inferno abaixo e o céu, o Impireo, habitado por Deus, extremamente distante. Fruto da ciência, de Galileu, de Copérnico, de Isaac Newton, se descobriu depois que o modelo era heliocentro, girava em torno do sol. E Deus? A ciência como disse Pierre Simon Laplace a Napoleão não lida com esse fenômeno e pode prescindir dele para estudar o cosmo, o universo.

E foi justamente a religião, a fogueira das trevas e da inquisição, que arderam os livros e o corpo de Giordano Bruno, que disse que as estrelas tinham planetas girando em torno de si. Uma verdade científica que hoje não discute mais. E se João Paulo II pediu perdão a Galileu por este ter sido condenado pelo Vaticano por ter dito que a terra era redonda, Bruno ainda carece desse mesmo perdão. Um perdão dado há 15 anos atrás a Galileu, muito tempo depois da terra ter sido fotografada da lua, e redonda como dizia o cientista, que chegou a essa conclusão ao ver os navios se distanciar do mar.

Nessa fogueira que conhecimento, Gleiser fez com a platéia adulta aquilo que encanta a criança: farpas no ar, busca de respostas que desde os tempos imemorais nos integram: de onde viemos? Para onde vamos? Respondeu perguntas. Alguns queriam saber se seria possível viver em Marte, já que lá há água. Gleiser garantiu que não por conta das radiações, por isso as missões não levam homens para o planeta vermelho. Lá teríamos de perder metade da nossa massa corpórea, para quem almeja um SPA radical não deixa de ser um oportunidade. Em Vênus teríamos um calor de 500 graus, a morte. Mas lembrou que, como disse Bruno, existem planetas em volta das estrelas, fazendo a sua corte e certamente algum poderá ser similar a terra. A busca prossegue.

Os conceitos da ciência estimulam. Com o cientista, a platéia descobriu que a cada piscadela de olho, corresponde a um giro de 7,5 vezes meia da terra. E que poderíamos viajando na velocidade da luz, voltar ao futuro.

Informações instigantes, que estimulam a busca do conhecimento. E que alertam os publicitários que é preciso conhecer o mundo, o universo. E que esse intricado jogo, onde Deus e a ciência se conflitam é a própria razão da humanidade. As religiões buscam respostas, quando não atribuem o que não explica a mistérios, a ciência, busca desvendar sem mistérios. Mas muito ainda há por fazer.

Foi uma noite repleta de dúvidas e de estímulo. Mas é complicado sair das trevas para ver a luz. Erasmo de Rotenrdã já pontuava no seu Elogio à Loucura, que o primeiro a ver a luz, é tido como lunático, os outros temem essa luz. Talvez por isso, Gleiser considera mais fácil falar de ciência a crianças do que a adultos.

Mas as lições valeram.

E a sua entrevista, respondendo perguntas inquuietas, com extrema simplicidade valeram ainda mais.

Veja quem é Marcelo Gleiser

Quando criança, morando no Rio de Janeiro, gostava de tocar violão e jogar vôlei. Mesmo não se interessando então por matemática, desde cedo eram claros seu interesse e paixão pela Natureza. Queria ser músico, mas seu pai Isaac, dentista, convenceu-o a mudar de idéia, pois segundo ele, a música seria uma escolha arriscada, tornando incerto seu futuro profissional. Após cursar dois anos de Engenharia Química, Gleiser transferiu-se para o curso de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Bacharelou-se em 1981. No ano seguinte fez seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e em 1986 obteve seu doutorado no King’s College London na Universidade de Londres. Desde 1991, é professor de Física e Astronomia e pesquisador em uma renomada universidade norte-americana, a Dartmouth College em Hanover, EUA. Já fez parte do grupo de pesquisadores do Fermilab, em Chicago, e do Institute for Theoretical Physics da Califórnia. Recebeu bolsas para pesquisas da NASA, National Science Foundation e da OTAN.

Articulista do jornal Folha de S. Paulo desde 1997, Gleiser divulga a ciência trazendo explicações simples para milhares de leitores. Ministra uma disciplina em Dartmouth chamada “Física para Poetas”, extremamente popular na universidade, atraindo pessoas que não possuem ligações com a física. Suas aulas se caracterizam por relatos da história da ciência e dos cientistas juntamente com explicações sobre os fundamentos da física no laboratório através de experiências e demonstrações em sala de aula.

Em 1994 ganhou do presidente norte-americano Bill Clinton o prêmio Presidential Faculty Fellows Award por seu trabalho de pesquisa em cosmologia e por sua dedicação ao ensino. Em 1995 ganhou o Dartmouth Award for Outstanding Creative or Scholarly Work e venceu em 2001 o prêmio José Reis de Divulgação Científica. Em 2001, Gleiser foi eleito Fellow da American Physical Society, a Sociedade de Física Americana, do qual é membro. Seu ensaio Emergent Realities in the Cosmos apareceu na antologia Best American Science Writing 2003, editada por Oliver Sacks. Em 2006, Gleiser foi eleito Membro Permanente da Academia Brasileira de Filosofia.

Em 1997 lançou no Brasil seu primeiro livro, A Dança do Universo, que trata da questão da origem do Universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. O livro, escrito para o público não-especializado, tornou-se num marco da divulgação científica no Brasil.

Em 1998 ganhou o Prêmio Jabuti por esse livro, prêmio que viria a repetir em 2002 pelo livro O fim da Terra e do Céu. No ano de 2005 lançou uma coletânea de suas colunas publicadas na Folha de S. Paulo de 1999 a 2004 intitulada Micro Macro. A sua primeira obra inspirou uma peça de teatro do grupo Arte e Ciência no Palco, que estreou no Festival de Curitiba, e foi apresentada em vários teatros e festivais no Brasil e em Portugal. Em 2006, publicou A Harmonia do Mundo, seu primeiro romance e também um best seller, sobre a vida e obra do astrônomo alemão Johannes Kepler.

Em Setembro de 2006 estreou nos cinemas o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues, com consultoria de Gleiser. O filme conta a história de um astrofísico que volta ao Brasil.

Em 2006, apresentou um bloco no programa dominical Fantástico, da Rede Globo, chamado “Poeira das Estrelas”. O programa fala sobre ciência, mantendo o foco na astronomia e na origem da vida, muito semelhante à série Cosmos, de Carl Sagan.

 

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