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QUE VIVA CAZUZA!

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MARCELO PINTO

Há 18 anos, morria Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, um dos grandes poetas do rock e da música nacionais dos anos 80, vítima da Aids. No mesmo ano, através da iniciativa de sua mãe, Lucinha Araújo, nascia a Sociedade Viva Cazuza, com o objetivo de garantir qualidade de vida a crianças soropositivas.

 Fundar essa instituição foi para Lucinha, a princípio, uma maneira de superar a dor da perda precoce do filho, que, no último dia 4 de abril, completaria 50 anos. Mas como o tempo não pára, a vontade de preservar a memória de Cazuza acabou se transformando num projeto maior, hoje considerado referência pelo Ministério da Saúde no enfrentamento da epidemia. Além de ser responsável pela primeira Casa de Apoio Pediátrico da cidade do Rio de Janeiro – que abriga atualmente 20 crianças -, a Sociedade Viva Cazuza mantém ainda um programa de adesão ao tratamento para 150 pacientes – adultos na maioria – e um site informativo, que apesar de receber milhares de visitas por mês, provenientes até mesmo de países africanos, parou de atualizar seu conteúdo por absoluta falta de verba.

 

Para Lucinha Araújo – que já publicou a autobiografia “Só as mães são felizes”, mais tarde transformada em “Cazuza – O tempo não pára”, filme brasileiro mais visto de 2004 -, o dia só vai nascer feliz por completo quando for descoberta a cura da Aids. Enquanto ela não vem, Lucinha segue lutando para manter de pé a Sociedade Viva Cazuza. Para isso, planeja algumas ações ainda para este ano. A principal delas é lançar, em outubro, um livro contando essa história iniciada em 1990, que já lhe rendeu diversos prêmios. Os direitos autorais do livro serão revertidos para a própria instituição.

 

A inspiração para isso tudo vem, evidentemente, do exemplo deixado pelo filho. “Ele mostrou sua cara, foi a primeira pessoa pública a dizer que tinha Aids, e isso certamente ajudou a mudar o rumo da epidemia no Brasil”, afirma Lucinha.

 

A Sociedade Viva Cazuza é uma referência no enfrentamento da AIDS. Qual a fórmula?

Acho que não existe uma fórmula e sim muita vontade de trabalhar. Acredito que estou fazendo a minha parte, a cada dia que passa com mais dificuldade. Estamos enfrentando uma crise financeira séria, que, aliás, é comum a quase todas ONGs que trabalham com Aids.

 

Como tem sido a inserção das crianças assistidas nas escolas conveniadas? Ainda há muito preconceito?

Hoje, as crianças estão bem inseridas na comunidade e temos uma excelente parceria com as escolas onde elas estudam, mas isso se deve a um trabalho continuado que iniciamos há muitos anos. O preconceito, infelizmente, irá existir sempre, mas nosso trabalho é tentar informar as pessoas sobre as formas de prevenção e transmissão do HIV e dar uma formação para que as crianças que atendemos possam lutar contra o preconceito e enfrentá-lo.

 

Desde 1999, o site da Sociedade Viva Cazuza vem se firmando como referência em informação atualizada sobre Aids. Como está o projeto?

Em 1999 percebemos que as informações científicas sobre Aids eram restritas a um número pequeno de profissionais e pessoas interessadas no assunto, em virtude delas virem na sua maioria em inglês. Dessa forma, desenvolvemos um site que pudesse ser ágil na disponibilização dessas informações, uma vez que as pesquisas e formas de tratamento apresentam uma evolução muito rápida. Desde o início tivemos um número de acessos crescente, chegando a uma média de 20 mil por mês e uma média de perguntas respondidas também alta, com perguntas de pessoas inclusive de países africanos de língua portuguesa. Acho que esse é o retorno que esperávamos, mas infelizmente o site está no momento fora do ar por falta de verba.

 

Várias crianças atendidas pela Viva Cazuza soronegativaram, e parte delas foi reintegrada à família. Como tem sido essa experiência?

O tratamento oferecido a gestantes soropositivas fez com que o número de crianças infectadas através de suas mães caísse muito e hoje trabalhamos com crianças a partir da faixa etária onde se pode definir de fato a sorologia, mas a reintegração familiar é feita também para as crianças soropositivas e fizemos algumas com muito sucesso. Algumas vezes, porém, discordamos dos critérios adotados pelo Juizado de Menores e pelo Ministério Público que exigem mais agilidade nos processos. Mas não acredito que ninguém pode ter carinho, amor e afeto por determinação judicial. Essas reintegrações “apressadas” muitas vezes acabam por colocar a criança ou o adolescente em situação de rua.

 

Como é administrar a Sociedade? O dinheiro dos direitos autorais da obra do Cazuza, dos eventos, convênios e doações tem sido suficiente?

Não, infelizmente estamos vivendo um período financeiro difícil, mas acredito que o poder de nosso trabalho e a credibilidade do que realizamos ao longo desses dezoito anos farão com que essa situação se reverta. (Lucinha pede para divulgar a conta da Sociedade Viva Cazuza, para doações:Banco Bradesco, agência 0887-7, conta corrente 26901-8).

 

O que falta “pro dia nascer feliz” a quem depende do sistema público no tratamento da Aids?

“Pro dia nascer feliz” seria para mim a cura da Aids, mas temos que reconhecer que muito foi feito desde o início da epidemia até hoje. O Brasil foi o primeiro país a doar medicamentos gratuitos para todos os pacientes e costumo dizer que temos um bom programa de Aids num péssimo programa de saúde, mas infelizmente hoje começamos a ver o início da falta de medicamentos nos hospitais e postos de saúde, assim como a falta de exames. Isso me deixa muito preocupada.

 

Qual o principal legado que Cazuza nos deixou?

Além de suas músicas que atravessaram décadas e atingem pessoas que nem chegaram a conhecê-lo, Cazuza deixou também um legado de muita coragem e integridade. Ele mostrou sua cara, foi a primeira pessoa pública a dizer que tinha Aids, e isso certamente ajudou a mudar o rumo da epidemia no Brasil.

Só as mães são felizes?

Acho que só existe mãe feliz com filho feliz.

 

 

Para conhecer melhor a Sociedade Viva Cazuza:

www.vivacazuza.org.br

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