O 14º FÓRUM DE COMANDATUBA, organizado pelo Lide, Grupo de Líderes Empresariais, criado e dirigido por João Dória Jr., começa oficialmente neste domingo, 19, em Comandatuba, no litoral baiano. Promete reunir em debate sobre o desenvolvimento econômico e social da América Latina legítimos representantes da escória e do atraso da região. O ex-presidente boliviano (2001-2002) Jorge Quiroga, que chegou ao poder por ser vice do sanguinário ditador Hugo Banzer e líder do partido de direita Ação Democrática Nacional (ADN), fundado por Banzer em 1979, é um dos convidados de honra de Dória. Quiroga não estará sozinho, pois o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2002/2010), que teve entre os méritos a aprovação da reeleição pelo Congresso e a associação com o narcotráfico na região, denunciada em livros e documentos oficiais do governo dos Estados Unidos, lhe fará companhia.
Álvaro Uribe deixou o governo colombiano sob a névoa da corrupção que prometera combater e a suspeita de ligação com o narcotráfico que teria permeado o processo de aprovação da reeleição. Quesito em que poderá debater, apenas no que se refere a aprovação da reeleição pelo Congresso, em igualdade de condições com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também convidado do fórum de Comandatuba e que, embora negue, nunca chegou a desmentir de forma clara e objetiva as denúncias de compra de votos para a reeleição publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo em sua edição de 13 de maio de 1997. A reportagem exibiu declaração veemente de deputado que na época teria vendido seu voto por R$ 200 mil, quando R$ 1 ainda valia 1 dólar. Como não houve interesse na ocasião de desmobilizados Ministério Público e Polícia Federal, nem da grande imprensa, “morreu neves” como se diz no interior das Minas Gerais, mas ficou o registro.
Só que os problemas que envolvem Uribe são bem mais graves, sem falar no desvínculo do seu governo com as demandas sociais, o que não é exceção, mas regra, entre os debatedores convidados por João Dória Jr. que ironicamente falarão de desenvolvimento econômico e social.
A queda acentuada de popularidade de Uribe e seus problemas se agravaram quando a ex-apresentadora de televisão Virgínia Vallejo escreveu o livro “Amando Pablo, odiando Escobar” em que relata supostas ligações de seu ex-amante, Pablo Escobar, que comandava o famoso Cartel de Medellín, com Álvaro Uribe.
Em 2002, foi a vez de o jornalista da Newsweek Joe Contreras publicar o livro “El señor de las sombras” em que apresenta uma biografia não-autorizada de Uribe e defende que ele teria ligações com o narcotráfico. Em 1991, relatório do serviço de inteligência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, conforme relatado pela Newsweek e por agências internacionais de notícias apontava: “Álvaro Uribe Vélez, político e senador colombiano, dedicou-se à colaboração com o Cartel de Medellín em níveis elevados do governo (…) Uribe trabalhou para o cartel e é amigo próximo de Pablo Escobar Gaviria”.
Para completar a mesa, além de Fernando Henrique Cardoso, Quiroga e Uribe, foram convidados ex-presidentes do Uruguai e do México. O uruguaio Luis Alberto Lacalle (Uruguai 1990/1995) foi derrotado no seu desejo de reeleição nas urnas por José Mujica, que deu uma aula de civilidade ao mundo na forma de conduzir um país com respeito e probidade. Já o filho de Lacalle, como ele representante do Partido Nacional (conservador), Luis Lacalle Pou, encerrou o ano de 2014 derrotado nas urnas por Tabaré Vázquez, o sucessor indicado por Mujica.
O ex-presidente mexicano Vicente Fox, ex-presidente da Coca-Cola em seu país, completa a lista de convidados para o debate em Comandatuba. Fox deixou o governo com um dos piores índices de rejeição que o levou a declarar no término do mandato que abandonaria a política e se dedicaria a um Centro de Estudos, Biblioteca e Museu, próximos ao seu rancho em San Cristobal, Guanajuato, México, com o compromisso de combater políticas populistas.
Em release enviado à imprensa, João Dória Jr. diz que “o Brasil necessita urgentemente buscar soluções para superar a crise política e econômica em que se encontra. Cabe a nós, representantes do setor público e privado, propor novos caminhos. Unidos, conseguiremos reverter esse cenário” e acrescentou: “Da mesma forma, a América Latina deve protagonizar as mudanças necessárias para o fortalecimento da região.”
Como outro apresentador de televisão, a exemplo de Dória Jr., recorremos aqui ao saudoso Jack Palance, que se tornou-se célebre à frente de programa exibido na década de 1970 e até hoje reprisado: ACREDITE SE QUISER! Ou, como na comédia do italiano Pirandello, “assim é se lhe parece”. Pobre e bela Comandatuba que abrigará debatedores como Quiroga, um representante das sombras e de um passado negro da América Latina, em seu ambiente sempre ensolarado, onde a baianidade é o retrato da alegria de viver.
