*Miguel Fontes
A pesquisa The Face of Global Sex 2007, lançada recentemente e cuja temática residiu sobre a primeira relação sexual, tornou claros alguns pontos que poderiam servir de base para o estabelecimento no Brasil de políticas públicas de saúde e também para investimentos em marketing social com relação à mudança de comportamento na utilização de preservativos por parte dos jovens. Talvez o mais importante desses indicativos extraídos desse estudo é a mudança comportamental quando o assunto é a maior utilização de camisinha dos jovens em relação às pessoas com idade mais avançada, acima de 49 anos. Esta foi uma evidência realmente significativa. Os jovens brasileiros estão de parabéns! Do outro lado, alguns esforços serão necessários para trabalhar a população acima de 49 anos, já que, segundo o estudo, constata-se que o fato de não ter usado o preservativo na primeira relação sexual, significa o não uso ou uso descontinuado pelo resto da vida. Eles com certeza são os que têm maiores resistências para o uso do preservativo na atualidade. Os números do Ministério da Saúde reforçam estes dados e indicam que esta população encontra-se cada vez mais vulnerável à infecção do HIV/AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Sendo assim, é hora também de pensarmos nos sexualmente ativos de mais idade.
No entanto, retornando aos jovens, e atuando como profissional em marketing social, observamos que as empresas no País parecem não estar tão preocupadas com esse target. As iniciativas existentes para esse público são incipientes, e as que se propõem a fazer algo, esbarram na falta de discernimento do conceito de marketing social. O Ministério da Saúde tenta desenvolver uma política de marketing social de preservativos com parceiros empresariais, mas ainda trabalha com a noção de que marketing social em relação aos preservativos é baratear o custo para as populações de baixa renda. Infelizmente, este não é o uso correto dos conceitos de marketing social. Nesse sentido, o Programa Hora H, projeto para o qual a John Snow Brasil traçou toda a estratégia de marketing social para sua implantação, é realmente uma grande inovação no cenário brasileiro, especialmente no trabalho com jovens de baixa renda. O foco não é em baratear o preservativo para estes jovens, mas engajá-los em um estilo de vida que valoriza o respeito a diferenças de gênero, opção sexual e escolhas saudáveis (como o próprio uso do preservativo)
Está demonstrado na literatura internacional que a primeira relação sexual é uma oportunidade de escolha saudável que irá marcar as práticas sexuais de toda vida de um jovem. Ou seja, o uso do preservativo na primeira relação sexual significa um aumento considerável na probabilidade desta pessoa fazer uso contínuo do preservativo em toda sua vida. O fato do Brasil estar em 7º colocado no ranking mundial de utilização de preservativos na primeira relação sexual é um grande avanço se considerarmos que estamos à frente de muitos países desenvolvidos. Além disto, comparando-se com pesquisa dos últimos trinta anos, o Brasil é um dos países que alcançou avanços nestas taxas de forma mais significativa.
As empresas, entendendo que o uso de preservativo na primeira relação sexual é fundamental, deveriam estimular que os seus funcionários discutissem sobre sexualidade com seus filhos e os ajudassem a fazer a escolha certa neste momento tão importante na vida do ser humano. Algo que não se esquece jamais!
*Diretor da John Snow Brasil
Sobre a John Snow Brasil: Mais de 100 projetos desenvolvidos para a transformação social e a melhoria da qualidade de vida
A John Snow International (www.jsi.com) é uma empresa especializada em gestão estratégica de investimentos sociais públicos e privados. Com sede em Boston (EUA), a empresa já implementou projetos em 102 países e é reconhecida mundialmente como uma das principais consultorias na área de investimentos sociais. O nome John Snow é uma homenagem ao médico inglês de mesmo nome, que em 1854 foi o primeiro a usar uma metodologia científica para descobrir a origem de uma epidemia de cólera que atingia a Europa.
No Brasil, a John Snow (www.johnsnow.com.br) atua desde 1995, desenvolvendo e implementando projetos de tecnologia social para as principais empresas e órgãos públicos do país. Entre elas estão Fundação Banco do Brasil, Instituto Ayrton Senna, Instituto Newton Rique, Grupo Caixa Seguros, Grupo Shopping Iguatemi, Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores ABAD, Ministério da Saúde e Secretaria de Assistência Social no Rio de Janeiro.
