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A TRAVESSIA DE FERNANDO BRANT

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Fernando Brant partiu ontem para uma travessia ao encontro do Reino da Pasárgada de que fala o poeta Manuel Bandeira. Ele estava internado no Hospital das Clínicas da UFMG desde segunda-feira, 8, quando se submeteu a um primeiro transplante de fígado, a qual o organismo rejeitou levando os médicos a uma segunda tentativa a qual ele não resistiu. Fernando Brandt, autor de diversas músicas do mineiro Clube da Esquina, como “Travessia”, deixa um belo legado musical e uma luta constante pela música popular brasileira, em defesa de seus artistas e de seus direitos autorais.

Fernando Brant é o primeiro de uma família de dez irmãos a partir aos 68 anos. O mineiro que nasceu em 9 de outubro de 1946 em Caldas, no Sul de Minas, foi estudar em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e nos anos 1960 fez amizade com Milton Nascimento, com o qual fundariam o Clube da Esquina. Brandt é compositor de “Travessia”, obra de 1967, com a qual ele e Milton conquistaram o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, e que abriu portas para o Clube da Esquina e novas músicas que fazem parte da vida de todo brasileiro, como “Encontros e despedidas”, “Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “Canção da América”, “Nos Bailes da Vida”, “San Vicente”, “Planeta blue” e muitas outras de um total de mais de 200.

Defensor dos direitos dos artistas, ganhou hoje, nas redes sociais uma sensível homenagem da cantora Ana de Holanda, que foi ministra da Cultura e defendeu, com unhas e dentes, até onde pode a arte e os artistas. Em homenagem a Brandt, tomamos a liberdade de reproduzir o texto de Ana de Holanda nas redes sociais:

POR ANA DE HOLANDA
Partiu meu querido amigo FERNANDO BRANT. Partiu o poeta e autor de MARIA, MARIA, CANÇÃO DA AMÉRICA, SAN VICENTE, PONTA DE AREIA, CANÇÕES E MOMENTOS e centenas de outras obras primas.

Se não produziu muito mais foi porque dedicou boa parte da vida profissional à defesa dos direitos dos autores. Quando saí do Ministério da Cultura, escreveu um artigo muito comovente que, normalmente, eu não postaria aqui por ser parte envolvida, mas nessa hora em que ele se vai, sinto que tenho que deixar de lado os escrúpulos e reproduzir o que ele escreveu para o jornal O ESTADO DE MINAS em outubro de 2012:
Sai a gentileza, voltam os abutres

Por Fernando Brant

Existem pessoas que odeiam os autores, os criadores de arte. Penso que andava distraído ou poetando, pois não me dava conta desse fato. Talvez por ligar esse sentimento negativo às ditaduras, que não suportam o pensamento livre, as opiniões diversas das suas. Todo ditador não gosta e persegue os que contrariam seus desígnios, seus desejos, suas ordens. Quem não marchar unido com ele é inimigo e deve ser preso ou morto. A liberdade, que assusta as mentes autoritárias, é, também, essência de todo artista.

O regime opressor, que pôs grades no Brasil durante mais de vinte anos, é coisa do passado, que não deve ser esquecido mas se foi.

Como explicar, então, que governos democraticamente eleitos escolham todo o tipo de autor, mas sobretudo os musicais, como espécie a ser extinta? Será uma nova safra de antropólogos que , na falta do que descobrir e estudar, inventaram um novo brinquedo e partem para a destruição dos incômodos criadores de belezas sonoras e poéticas para, assim, pesquisarem a fundo o que deles restou? Iniciou-se em 2003, através de um grupo de assessores do Ministério da Cultura, aliados a advogados juvenis da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas, uma guerra estúpida para acabar com a música popular brasileira, genial e fértil afirmação da riatividade do nosso povo. Pois quem mata o criador acaba com a possibilidade de se criar novas obras.

Nossa história é a nossa música: das festas populares a Chiquinha Gonzaga, de Nazaré a Pixinguinha, de Noel e Ary a Caymmi e Tom Jobim. É uma longa e venturosa estrada, construída dia a dia pelos músicos desse nosso Brasil, uma multidão de gente talentosa que nos orgulha. Enquanto comemoramos os setenta anos de Caetano, Gil, Milton, Paulinho da Viola e Jorge Benjor, as velas se apagam e o canto de alegria é substituído por um outro, de temor.

Nos últimos vinte meses, o Ministério da Cultura esteve sob o comando de Ana de Hollanda, que tem o dom de distribuir, por onde passa, delicadeza, sorrisos e gentileza. Trabalhou com dedicação, mesmo tendo ao seu redor os olhares injetados de muito sangue de corvos cruéis e sem escrúpulos, que tudo fazem para manter suas sinecuras e seus dogmas de fanáticos. Ana segue sua vida, mas o refrigério, o oásis que ela significou nesses meses promete transformar-se em mais uma investida feroz dos que odeiam os autores musicais.

Não entro no mérito da substituição feita por quem tem o direito de fazê-la e nem discuto por antecipação a nova gestora do Ministério, mãe de autores. Mas já se sente o odor dos que voltaram ao poleiro. Já não sobrevoam os céus de Brasília.

Pousaram. Querem comer a carniça da música popular brasileira. A consciência dos autores e a nossa Constituição, que os urubus desprezam mas têm de obedecer, nos salvará. São Jobim zele por nós.

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