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ALCIDES AMARAL

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Da Equipe Plurale www.plurale.com.br

Este artigo foi escrito pelo amigo de jornada, Alcides Amaral, especialmente para Plurale. Foi publicado na edição especial de um ano (número 8), que circulou em outubro de 2008.

Após esta grande contribuição, chegamos a convidá-lo para integrar o “time” de colunistas de Plurale. Gentil e cordial como sempre, ele declinou. Disse que tinha pouco a contribuir no debate. Pura modéstia. Este artigo é prova inequívoca de sua grande contribuição não só ao debate como também na luta pelo desenvolvimento realmente sustentável.

Deixamos aqui nossa homenagem para o `doublé` de jornalista e banqueiro, ex-presidente do Citibank, que soube, como poucos, defender ardorosamente os interesses nacionais na mesa de negociação com o poder global.

Recomendamos a leitura de seu livro “Os limões de minha limonada” .

Alcides Amaral

                                                          

O sonho de todo governante de um país democrático ou daqueles países que pelo menos seguem a estrutura mestra das regras de mercado, é poder oferecer  à sua população aquilo que hoje se tornou muito comum : o crescimento sustentável. Sustentabilidade que, de acordo com o dicionário Houaiss, é “característica ou condição do que é sustentável”, tornou-se comum nos dias de hoje, pois todos queremos , seja em termos de país , da empresa ou de nós mesmos , pessoas físicas, viver de maneira sustentável, sem altos e baixos, podendo planejar para um futuro melhor.

 

Infelizmente, embora essa seja a teoria, a realidade é muito diferente. Somos, empresas ou pessoas físicas, que dependem de uma engrenagem mais ampla que se chama “País” no qual vivemos. E hoje, com o mundo globalizado , quase sem fronteiras, não importa apenas o que acontece no nosso território, mas sim no mundo todo. Tudo isso para dizer que dependemos uns dos outros e quando nosso presidente Lula fala que “estamos num regime de crescimento sustentado” , é mais um desejo seu do que a realidade. O mundo passou por um curto período de “céu de brigadeiro”, onde todas as águas corriam suavemente em direção ao mar. Tudo dava certo, a economia mundial ia bem, a China crescia exponencialmente e o Brasil , embora sendo uma espécie de “último vagão” do trem do desenvolvimento sustentado , avançava a taxas superiores aos últimos 20 anos, alcançando uma elevação do PIB superior em 5% no ano de 2007. Chegamos a ser premiados com o “investment grade”, por duas importantes companhias de “rating” dos Estados Unidos,  que hoje é de pouca validade. Inicialmente, porque elas perderam a pouca credibilidade que já possuíam pois não foram capaz de prever o “bolha imobiliária” que se formava na terra do Tio Sam. E,em segundo lugar,  na nossa visão, o “investment grande” foi dado olhando-se pelo retrovisor. Isto é, essas “conceituadas” companhias de rating analisaram o que aconteceu até 2007 e esqueceram – ou não foram capazes – de olhar um pouco mais para frente, o que deverá acontecer em 2008, 2009 e, quem sabe 2010.

 

Como era esperado, a “bolha imobiliária” estourou e com ela a economia norte-americana  entrou em pânico. O sistema financeiro praticamente quebrou – isso só não aconteceu graças à ação do FED  – e o fantasma da recessão passou a rondar o país tido como o mais rico do mundo. Não bastasse, face à elevação acelerada do preço das “commodities”, a inflação passou a incomodar, embora os índices oficiais não representem a realidade. Lá nos Estados Unidos, o combustível (o barril do petróleo ultrapassou a barreira dos US$ 100) e a alimentação não entram no cálculo da inflação. A conclusão é que o povo americano está gastando muito mais para viver do que os índices inflacionários oficiais demonstram.

 

Obviamente a crise financeira e econômica dos Estados Unidos alastrou-se pelo mundo desenvolvido, e há muitos que ainda acreditam que o impacto nos países emergentes – como o nosso Brasil – será menor pois não participaram daquele cassino financeiro que foram os anormais preços do mercado imobiliário norte-americano. A China está aí, como a nova potência, crescendo ao redor de 10,0% ao ano e mantendo o crescimento mundial ainda a níveis toleráveis, pois compra muito e caro de alguns países emergentes. E, mais uma vez, o Brasil torna-se privilegiado, pois como grande exportador de “commodities” consegue aumentar nossas divisas em dólares – apesar da supervalorização do real – pois exportamos soja, minério de ferro e assim por diante. O que poucos se lembram, entretanto, é que o PIB  da  China vem crescendo a taxas de 10,0% pois a base da economia era muito pequena. Na medida em que a China tornou-se uma potência, o crescimento daqui para frente será necessariamente menor.. A China continuará sendo ainda uma grande importadora de commodities (por necessidade), mas em contrapartida será ainda mais agressiva nas exportações, o que torna praticamente impossível competir com centenas de produtos que produzem face aos baixos preços praticados.

 

Para nós aqui no Brasil, que tivemos e ainda temos as commodities como “âncora” da economia , a situação começa a agravar-se. A valorização exagerada da nossa moeda ,o real, fez com que nossa balança comercial ficasse refém desses produtos primários, sem nenhum valor agregado. A indústria foi praticamente destruída na sua capacidade de exportar, com exceção de algumas grandes empresas , e o resultado é que depois de obtermos um superávit comercial de mais de US$ 35 bilhões em 2007 , neste ano de 2008 ficaremos ao redor de US$ 20 bilhões e em 2009 fica difícil prever, pois a curva é claramente descendente. O déficit de contas-correntes agrava-se acentuadamente, tendo registrado um déficit de US$ 17,4 bilhões no 1º semestre de 2008, com perspectivas mais negativas a cada dia que passa. Como a situação lá fora , onde as sedes das multinacionais ficam instaladas, está difícil, as filiais aqui localizadas enviam tudo que podem para o exterior o que fez com que , ajudado pelas importações , o mês de julho registrou a maior saída de dólares do país desde dezembro de 2006.

 

Portanto, falar em crescimento sustentado neste país nas condições atuais , é acreditar em Papai Noel ou ignorar o que está acontecendo no mundo e  no nosso país. Teremos um problema de balança de pagamentos aí pela frente – muito diferente daqueles originados pelo alto endividamento governamental perante os bancos internacionais – pois pouci de prático se faz para que esse quadro negativo e evidente seja revertido. Os problemas fiscais para 2009 também serão relevantes face às despesas já assumidas com os benefícios previdenciários e despesas com os servidores públicos. Nossa carga tributária já está num limite (a redor de 36,0%) que não permite mais nenhum avanço pois, simplesmente, tanto os indivíduos como as empresas não suportam conviver com maiores tributos.,

 

Para o Brasil o “investment grade” veio em má hora – deixou-nos a todos acreditar que nossas condições futuras são melhores do que a realidade  mostra – e de nada valerá , face o  fluxo crescente de dólares saindo para o exterior. Estamos hoje sendo basicamente financiados por dinheiro de curto prazo, que aqui chega para arbitrar contra nossa alta taxa de juro real. O que  aprendi ao longo da minha vida lidando com o mundo financeiro internacional, é que o dinheiro estrangeiro quando  sai a  velocidade é bem  maior do que entra.

Como nenhuma reforma estrutural será efetuada neste governo, só nos resta torcer para que a crise internacional dure pouco tempo para que possamos começar a pensar, novamente, em crescimento sustentado. Pois, nas condições atuais, temos que ter um bom guarda-chuva pois mais cedo ou mais tarde a tempestade virá.

 

 Jornalista, ex-presidente do Citibank S/A e autor do livro “Os limões de minha limonada”


 

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