CARLOS FRANCO
O publicitário Alexandre Gama, que comanda a agência NeogamaBBH, está feliz da vida. Acaba de conquistar a conta institucional da TIM, se consolidou no topo da maior fatia da conta do Bradesco, banco para o qual criou o mote “completo” e o lúdico e sugestivo 2000inove, e não pára de criar para clientes como Renault, Levi’s, iG, Puma, Jockey Club de São Paulo, iBest e Playboy. Contas que têm garantido à agência prêmios ao longo dos anos desde 1999, quando Gama deixou a AlmapBBDO para abrir o seu próprio negócio. Já em 2000, a NeogamaBBH conquistou um leão de prata do Festival Internacional de Publicidade de Cannes com um anúncio para a marca Umbro. Hoje, tem Puma.
Conhecido por não fugir do assunto, tanto em conversas formais como informais, Gama é mestre na arte de polemizar. Em entrevista ao Diário do Comércio disse que as empresas que continuarem a confundir comunicação com despesa em vez de investimento estão fadadas a mergulharem de cabeça na crise. “Esse é um momento em que empresas sérias, preocupadas com suas marcas têm que estimular o consumidor a gastar sob risco de verem o negócio ir por água abaixo”. Cautela até cabe, diz ele, mas não pode ser justificativa para o imobilismo daninho.
Gama diz que a perda de uma fatia qualquer de market share (como publicitários tratam o mercado) sai sempre mais cara do que a publicidade capaz de manter consumidores fiéis à marcas. O custo da infidelidade, brinca, é sempre alto e imprevisível.
Gama, que também já foi jurado em Cannes, sempre apostou no festival – o mais importante da publicidade mundial – para dar visibilidade ao negócio, tanto que acabou conquistando por lá como sócio a inglesa BBH, que tem como símbolo uma ovelha negra que faz zag, quando o mundo faz zig e vice e versa. Mas, neste ano, ele está convencido de que o festival não será bom negócio: “Sinceramente, acho que este não é um ano de inscrever peças em Cannes. Além do custo de passagem, hospedagem e inscrição, tem o glamour que não condiz com a atual realidade. Seria o mesmo que seguir o exemplo da GM, cujos executivos alugam jatos particulares para discutir promissórias e dívidas que podem levar a montadora à falência”.
Isso, pondera o publicitário, não quer dizer que ninguém deva ir a Cannes, mas é preciso adequar o festival deste ano à realidade das agências e dos países, exatamente como ocorreu com a entrega do Oscar 2009. Tudo muito modesto para os padrões da turma que adora o borbulhar dos espumantes e o farfalhar da fogueira de vaidades.
Gama, que nunca abandonou a criação e por isso mesmo contratou Roberto Crissiuma Mesquita para a gestão administrativa da agência, diz que “não é hora de glamour, brilho e colheita, mas sim de plantar para colher no futuro”.
O publicitário usa como lema que em tempos de crise ser criativo é apresentar resultados. Então, por mais que sua agência tenha criado peças de alto impacto durante o ano, terá, se tiver, participação modesta em Cannes. “Qualquer um tem que saber quando é hora de plantar e quando é hora de colher, festejar e brilhar. Essa é uma hora de trabalhar duro para superar a crise e estimular empresários a investir para não matar seus negócios inclusive a comunicação”. Tem quem discorde. Gama acha graça. E vê a turma da festa como que embarcando no Titanic rumo à francesa Côte D’Azur. Não faltará música, nem espumante, mas o navio…