TEXTO CARLOS FRANCO
FOTO ALEXANDRE FATORI
Maria de Fátima Trigo Tumas (foto), de 55 anos, dos quais 30 dedicados ao magistério e 26 anos ao casamento que rendeu um casal de filhos, estava orgulhosa no dia 13 de fevereiro deste ano de 2009. Levantou de madrugada na cidade de Juquiá, no Vale do Ribeira, fez o café, pôs a mesa para o marido e os filhos e pegou o carro para com outra professora (Rosângela Pupo, de 44 anos e 25 de magistério) seguir para Registro, cidade distante 132 quilômetros de São Paulo e menos de 15 minutos de carro do município em que mora e no qual se dedica à educação na Escola Professora Lydia Cortez de Aquino.
Com a camisa pólo do Programa Educa+Ação, uma iniciativa do Banco e da Fundação Bradesco, Maria de Fátima e Rosângela iriam acompanhar atentas a assinatura de acordo entre essas duas instituições e os prefeitos de oito cidades do Vale do Ribeira, terra da banana do interior paulista. Cerimônia marcada para às 9 horas, elas não queriam perder nada e também desejavam encontrar, antes, para aquele papo amigo, professoras de outras escolas da região – mais de 100 que participaram do projeto piloto desse programa.
O objetivo do contrato é a expansão do Programa Educa+Ação para além das 14 escolas e 3.045 alunos beneficiados nos últimos dois anos residentes nas cidades de Cajati, Eldorado, Iguape, Jacupiranga, Juquiá, Pariquera-Açú, Registro e Sete Barras. Contrato assinado, palmas, abraços, fotos e um almoço no salão do hotel Estoril, nas margens da rodovia Régis Bittencourt, selou esse dia festivo para dezenas de professoras da região, alvo das ações do Banco e da Fundação Bradesco dentro dos objetivos do movimento Todos pela Educação, que engloba inúmeras empresas. Esse contrato é uma das partes mais práticas da carta de intenções de responsabilidade social do empresariado.
Maria de Fátima e Rosângela, normalistas que se dedicam ao ensino, participaram nos últimos dois anos do piloto do Programa Educa+Ação do qual têm orgulho. Fátima explica que ao longo dos seus 30 anos de magistério fez “n” cursos de reciclagem promovidos pelo governo estadual e estimulados pelas prefeituras, mas que esse é dirente. “A diferença é que existe um acompanhamento, o pessoal da Fundação Bradesco volta à sala de aula, à escola para ver se estamos colocando em prática os novos métodos e se estamos usando corretamente o material”.
No ano passado, a Fundação e o Banco Bradesco investiram R$ 1,5 milhão para a impressão dos livros adotados nas 40 escolas da Fundação Bradesco, com 52 anos, de atividade e que conta com uma rede hoje de 110 mil alunos. Inicialmente, a intenção do banco, ainda nos tempos do fundador Amador Aguiar, era atender os filhos de funcionários do próprio Bradesco. Mas a experiência deu tão certo, que foi se espalhando. Nas suas unidades, a fundação oferece gratuitamente educação fundamental, educação profissional de nível médio, formação inicial e continuada de trabalhadores, educação de jovens e adultos e assistência médica e odontológica.
Mario Helio de Souza Ramos, ex-aluno da fundação e hoje diretor da mesma, estava tão orgulhoso quanto às professoras do Vale do Ribeira e os prefeitos, na assinatura do acordo. É que ele mesmo foi estudante, há mais de 35 anos, da fundação e diz que a prioridade agora são as comunidades mais pobres. Mesmo os 8% de alunos que ainda são vinculados a funcionários obedecem ao critério de renda.
Em 2007 foram investidos R$ 201 milhões na rede de escolas; em 2008, esse valor bateu nos R$ 220 milhões. E, agora é essa experiência bem sucedida, que desenvolveu didática e acompanhamento e monitoria de profissionais de ensino, que o Bradesco devolve à comunidade e capacita ainda mais professoras como Maria de Fátima e Rosângela. E se Mario estava orgulhoso, o mesmo se pode dizer do fotógrafo Alexandre Fatori, de 25 anos, que também foi aluno da Fundação Bradesco. “Um capetinha”, segundo Silvia, professora da fundação que coordenou os cursos na região do Vale do Ribeira, mas que se derrete em elogios ao ex-aluno, bom fotógrafo, hoje nos quadros do banco, seguindo uma tradição familiar, já que seus avôs e pais também trabalharam na instituição.
O Bradesco é, de fato, uma grande família. Mas que agora amplia seu raio de ação. O próprio projeto Educa+Ação segue para as cidades de Ivinhema e Angélica, no Mato Grosso do Sul, por meio de parceria da fundação com a AdecoAgro, empresa cliente do banco, que decidiu apostar também na educação e que vai usar o apoio e o material didático do Bradesco.
Alexandre Fatori, o fotógrafo do banco, diz que o material de ensino é muito bom e lhe abriu as portas para o futuro. Ele sonha, agora, transformar em livro fotos que tem feito das cidades onde vê florescer, em outras crianças, a mesma curiosidade que o levou a seguir os rumos da fotografia.
Mario, o diretor ex-aluno da fundação, diz que em 52 anos, a fundação acabou por desenvolver material didático metologia capazes de resolver um dos maiores problemas do ensino básico no País: crianças da primeira à quarta série, na escola, mas sem saber ler e escrever. Como essa incidência é alta, especialmente porque o governo federal estimula a aprovação nas salas de aula – existe um índice a ser seguido de repetência, o material da fundação serve de suporte.
Com 40 escolas, os alunos da Fundação Bradesco de Registro foram responsáveis pelo show à parte da assinatura do contrato com os municípios do Vale do Ribeira, cantaram e tocaram instrumentos como gente adulta, regidos pro professores que transformaram em realidade uma Camerata, que é rodativa e a cada ano ganha novos participantes. A professora Fátima, daí da foto feita por Alexandre, adora música. E diz que no material didático da fundação, que inclui CDs e DVDs, essa tem sido uma ferramenta valiosa. Mas a sua principal crença na eficácia do Programa Educa+Ação está no acompanhamento pela fundação na aplicação do conhecimento. “Os governos (federal, estadual e municipal) promovem muitos cursos de reciclagem, mas não acompanham depois a sua aplicação em sala de aula, os resultados e a solução das nossas dúvidas. Isso faz muita diferença”.
Para Mário, é como se a Fundação rompesse os seus muros. E, a partir de agora, levasse mais conhecimento a todas as escolas. Claro que por meio de parcerias. Mas o banco que já investiu mais de R$ 10 bilhões em 52 anos em educação, tem muito que ensinar. As professorinhas, antigas normalistas, agradecem. Fátima, perto da aposentadoria, é o melhor e mais genuíno exemplo. “Temos sempre algo a aprender”. E aposentadoria? “Nem pensar por enquanto. Em casa, sem fazer nada, tenho tudo para me tornar uma chata.’ E, é claro, colocar em risco um casamento de 30 anos de magistério e 26 anos com o marido, ambos residentes em Juquiá, cidade na qual ajudaram, com o casal de filhos e os esperados netos, a chegar aos modestos 30 mil habitantes. Todos bem vitaminados com a força da banana, principal fonte de renda do Vale do Ribeira.