– Viu só. O Brasil só levou um leão em rádio…
– E de bronze..
-Pior. Para a Talent.
-Por quê, pior??
-Ora, o jurado brasileiro na categoria era o João Livi e ele é da Talent… Vai entender…
-Mas vai ver que o comercial é bom mesmo. Para a Semp Toshiba, eles até que têm feito campanhas inteligentes
-Mas acho que o João pensou foi no ÃO do salário…hehehehhe!!!
– É quem sabe, assim, ele compra uma camisa daquelas engomadinhas com as do João Eustachio, que tem cara de fio de algodão egipcio….Ou melhor de almofada de fio de algodão egípcio….
-É, ele deve agradecer todas as noites o fato de o Julio Ribeiro não ter herdeiro para tocar o negócio e ter caído nas graças do Julio.
-Poderá até montar fábrica de fio de algodão de egípcio.
-Que nada, de almofadas!!!!
No covil das cobras criadas da propaganda brasileira, as línguas são mesmo ferinas. Na realidade, o que aconteceu com João Livi, já aconteceu com outros jurados. O problema é que a mobilidade que enfrentam para puxar peças é pequena, então acabam priorizando aquelas que melhor podem e sabem defender. Tanto pior que, na categoria rádio, a cultura local, expressa por meio do hábito dos consumidores, que é o que dá molho às campanhas de áudio, se perde quando as peças são traduzidas literalmente para o inglês. Se as agências procurassem aproximar as campanhas, sem perder a essência, do frio humor inglês poderiam até conquistar mais espaço emn Cannes.
O diretor de teatro Flavio Marinho acaba de demonstrar, na montagem e adaptação de texto de O Manifesto, que está em cartaz no Teatro Renaissance, de Brian Clark, onde Eva Wilma e Othon Bastos, dão um baile em cena, durante 1 hora se trinta minutos. O texto é o mais puro humor inglês, quando um general de armada avalia com a mulher os seus 50 anos de casados e as diferenças políticas e culturais que os separam. Entram em cena, aquelas pequenas traições, e tudo costurado com humor cortante, inglês. No original, o texto é geladíssimo para padrões brasileiros, mas bem que as campanhas para rádio, poderiam passar por essa vestimenta.
Coitado do João Livi, vai acabar carregando essa imagem de advogar em causa própria por um tempo, sorte dele que, passadas algumas semanas do festival, a rádio Cannes perde o eco.