O produtor Clay Lins (ex-Fox EUA, WGN e Post Logic) decidiu em 2007
mudar-se para o Brasil. Estava de olho em oportunidades no mercado de
conteúdo audiovisual. Os 30 anos vividos nos EUA no universo do conteúdo
deram-lhe bagagem para caracterizar o atual momento do Brasil como de
oportunidade. Por isso, defende a urgência de o país superar os entraves
que impedem a constituição do conteúdo de TV e cinema como uma
verdadeira indústria.
Lins planejava abrir uma produtora de conteúdo no país. Mas acabou
encontrando o seu modelo de negócio já pronto no Núcleo de Inteligência
para Conteúdo –NIC Meios, lançado em 2007 pela OMM Holding. Por isso,
uniu-se ao NIC Meios e é, desde o mês passado, seu diretor de
Desenvolvimento de Negócios e Conteúdo.
Lins mudou-se do Brasil para os EUA no início da adolescência. Lá, atuou
como produtor independente, diretor de TV e diretor de operações. (Como
se sabe, a legislação nos EUA obriga a que as TVs produzam 40%, no
máximo, de toda sua programação. Isso fortaleceu os independentes e a
própria indústria do entertainment. Sinal da extensão e força dessa
indústria foi a recente greve dos roteiristas: emissoras tiveram de
bisar programação e o próprio Oscar se viu ameaçado).
Em sua carreira, Lins exibe um curriculum que inclui passagens como:
Produtor de externa do WGN, canal 9 (Chicago);
No WGN, dirigiu o talk show ao vivo Life Style, o qual foi indicado para
o Emy;
Foi diretor de Operações na Post Logic Studios (pós-produtora de Los
Angeles responsável por trabalhos de peso, como as vozes dos Simpsons e
outros);
Como editor de telemation, fez comerciais para marcas como Seven UP etc.;
Foi diretor de Operações e co-editor da revista Whole Life Times;
Entrou no The Paradise Group logo no início da companhia, onde era
responsável pelo desenvolvimento de projetos de programa para várias TVs
americanas;
Foi Line Producer (produtor) da Fox EUA.
Lins define-se profissionalmente como um expert em toda a cadeia de
produção de conteúdo –o que lhe possibilita avaliar e gerenciar desde o
potencial criativo de um roteiro de TV ou cinema, até sua viabilidade
como negócio, incluindo-se aí administrar o projeto, com seus timetables
etc., visando a meta de toda indústria: o retorno.
É a partir desta vivência que Lins defende posições como:
“Está passando da hora de o Brasil ter sua indústria de entertainment.
Com sua criatividade, se o brasileiro tivesse tido acesso à tecnologia e
ao conhecimento que se tem nos EUA, arrasava.”
“Mas, na parte de administração do negócio, fiquei chocado: o Brasil
está primitivo.”
“São duas noções fundamentais: 1) A de que, quando se faz um programa de
TV ou um filme, é para gerar retorno, como qualquer indústria, e ponto
final; 2) E que, para isso, para realmente se constituir uma indústria,
a produção tem de ser independente.”
“A primeira atitude a tomar é enriquecer o conhecimento dos roteiristas
brasileiros. Para isso, o segredo é o conhecimento. Existe um formato de
se contar uma história. Prova disso é o sucesso internacional de
produções como Cidade de Deus, Central do Brasil, Tropa de Elite e outros.”
“A prova cabal de que é um absurdo o estágio incipiente em que se
encontra a produção independente no Brasil está no contraste com
mercados como os EUA: ali, é indiscutível que o efeito final do
fortalecimento da produção independente não está só no mercado de
trabalho: está no enriquecimento do conteúdo que passa a ser oferecido à
sociedade e ao mercado.”
“É disso que o Brasil precisa. Uma legislação que descentralize pelo
menos parte da produção. E, neste sentido, é muito interessante a
proposta da TV pública, sim –pelo fato de darem espaço para a produção
independente.”