Quando o The Connaught reabrir suas portas no dia 14 de dezembro, após uma grande renovação, os londrinos entenderão o verdadeiro sentido da palavra “espetacular”. Na primeira fase do projeto, milhões de libras foram gastos para que esse marco, construído em 1897, tivesse a aparência totalmente renovada. Uma segunda fase trará a abertura de uma nova ala na Adam’s Row, que abrigará mais apartamentos e suítes. Quem sempre o conheceu, provavelmente descobrirá que, essencialmente, sua aparência ainda é a mesma; os hóspedes antigos conhecem o Connaught por seus funcionários e inigualável atendimento – um legado que será preservado e protegido com a mesma diligência empregada para catalogar os tesouros artísticos do edifício e, subseqüentemente, devolvê-los à suas posições de origem.
Um “luxo cintilante”. Foi assim que Peter Mayle descreveu a atmosfera do Connaught na revista inglesa GQ, no final dos anos 90. Além de um serviço cortês, a elegância sóbria do hotel foi premiada no final do século 19, quando, ainda sob o nome de The Coburg, a revista The Gentlewoman classificou-o como “o mais belo hotel”, mesmo elogio usado hoje pelas personalidades da moda e do cinema que freqüentam Carlos Place quando estão em Londres.
Uma pergunta curiosa: se o maior bem de um hotel é sua autenticidade, como seus administradores lidam com uma renovação de porte tão vultuoso? Stephen Alden, CEO do Maybourne Hotel Group, reconhece que o elegante Connaught estava começando a mostrar sinais de cansaço. “O gosto das pessoas progrediu. Chegou a hora de uma renovação de peso. O projeto é moderno – o padrão minucioso e complicado dá lugar a texturas e materiais simples.” Além disso, a estrutura está mais do que pronta para uma nova mudança. O Connaught foi construído para acomodar a aristocracia dos tempos do rei Eduardo e sua corte, e não o CEO da era digital, para quem o luxo é secundário e viaja apenas com sua bagagem de mão.
A autenticidade do hotel não é avessa a mudanças. Em seus 108 anos de história, o Connaught foi modernizado com freqüência em razão a uma clientela mais jovem. No entanto, seus proprietários agora enfrentam um desafio mais ambicioso. As portas foram fechadas aos hóspedes e a estrutura em si foi renovada – encanamento, instalação elétrica, decoração em todos os apartamentos, suítes, banheiros, saguão, escadaria e bares. Além disso, o hotel foi expandido. Uma ala nova e contemporânea abriga mais quartos e suítes, um sofisticado spa (completo e com piscina) para promover a saúde, a beleza e o bem-estar e também um espaço para entretenimento privativo e salas de reunião.
Introduzir o Connaught no século 21 não é uma tarefa das mais simples. Mas a questão é: expandir-se em que direção? Nada é mais difícil do que conseguir um alvará de construção em Mayfair e o espaço na região é limitado. A administração não arredou pé, pois o hotel precisava se modernizar sem perder seu caráter autêntico, empregando detalhes como as antiguidades, animais mitológicos em pedra e a escadaria. Michael Blair, premiado arquiteto da empresa Blair Associates Architecture, foi incumbido de reformar este tesouro. Seu desafio era criar uma solução que não interferisse no ambiente dando continuidade à arquitetura original. É contemporâneo, mas ainda inspirado no tradicional.
Um aspecto totalmente novo é o telhado verde da nova ala – verde tanto na cor quanto em termos de conservação. Será um tapete vivo, composto por ervas nativas que absorvem a água da chuva controlando o escoamento, reduzem a perda de calor e liberam oxigênio no ambiente.
Stephen Alden descreve o tipo de hóspede que deve ser atraído pelo recém-reformado hotel como “alguém curioso, possivelmente fã de arte… alguém que se sinta à vontade em um ambiente contemporâneo, mas que não abre mão do romantismo associado a se hospedar em um dos hotéis mais imponentes do mundo.” Um pouco mais discreto do que os hotéis da mesma categoria, The Connaught atrai uma clientela estrelada, mas um tanto quanto reservada. Cecil Beaton, Cary Grant, David Niven e a princesa Grace estavam entre os que descobriram o hotel nos anos 50, quando se tornou famoso. Simon Hopkinson, chef e autor de livros de culinária, fez uma peregrinação para degustar a requintada cozinha pós-Escoffier, criada por Michel Bourdin, em 1977. Na ocasião, ficou cativado por um breve encontro com Lauren Bacall, que nunca se hospedava em outro hotel em Londres. Sua satisfação era tamanha que Anthony Lee às vezes tomava conta do cãozinho da atriz em seu escritório.
O calor humano e a familiaridade no atendimento continuarão como estão, mesmo com o aumento de 25% no número de quartos. Como ocorre em todos os hotéis Maybourne, os hóspedes serão tratados pelo nome. Modismos gastronômicos vão e vêm, padrões na decoração cedem espaço à textura, mas o toque humano permanece.
É por isso que a reforma do The Connaught será discreta: para muitos visitantes de Londres, é seu porto seguro. Quando os construtores partirem e os hóspedes habituais voltarem, Jean-Marc Guigonet, o porteiro impecável de cartola, não abrirá a porta para um mundo inteiramente novo – apenas a uma nova era.