As primeiras imagens conhecidas do Brasil foram produzidas pelos artistas europeus que acompanharam as expedições exploratórias que diversas nações enviaram ao país durante o período colonial. Em aquarelas, gravuras e desenhos, nomes como Rugendas, Debret e Clarac muitas vezes acompanhados por pesquisadores e cientistas retrataram topografia, povo, costumes, paisagens, flora e fauna brasileiras com imensa beleza e riqueza de detalhes.
Uma extraordinária coleção dessa iconografia histórica brasileira, além de mapas antigos também originais, é mostrada em Old Prints, exposição com curadoria do especialista Dominique Baechler que acontecerá de 23 de outubro a 29 de novembro no Club Transatlântico (R. José Guerra, 130, entre as ruas Verbo Divino e Alexandre Dumas, Chácara Santo Antônio, tel.: 11.2133.8600. www.clubtransatlantico.com.br). A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, entre 9 e 22h. A vernissage será na terça-feira, 23 de outubro, às 19h.
Todas as obras de Old Prints, montadas com molduras e passepartouts franceses, tradicionais da época de cada gravura, estão à venda com preços entre R$ 600,00 e R$ 15.000,00.
Além de obras de Debret e Rugendas, os mais importantes artistas viajantes da época Imperial, os principais destaques da exposição são:
– Carta do Império do Brasil, mapa dos últimos anos do Reinado do Imperador Dom Pedro II, com a designação de ferrovias, colônias, engenhos, linhas telegráficas e de navegação a vapor. Paulo Rolin, litógrafo, Rio de Janeiro, 1883. Medida: 1,30 m x 1,30 m.
– Série de Mapas Holandeses do período da ocupação do Príncipe Mauricio de Nassau, Séc. XVII, assinados pelos maiores cartógrafos de Amsterdam: Blaeu, Mercator, Janssonius e outros.
– Mapa ¨Le Brésil et ses Capitaineries – da época de LUIS XIII, séc XVII, assinado pelo prestigioso geógrafo Nicolas De Fer (16461720), considerado o pai da cartografia francesa.
– Forêt Vierge du Brésil, extraordinária paisagem ilustrando a vegetação da mata atlântica nos arredores do Rio de Janeiro. Aqua-forte aquarelada do qual existem pouquíssimos exemplares no mundo, assinada pelo Conde Charles-Othon de Clarac (17771817). Premiadíssimo artista, amigo pessoal do jovem Dom Pedro I, ele ficou no Rio de Janeiro junto com o famoso Saint-Hilaire na missão do Duque de Luxemburgo. O célebre naturalista Alexandre von Humboldt elogiou a veracidade desta obra mestra no seu ¨Tableau de la Nature¨. Dimensão 70cm altura x 85cm largura.
– Série de litografias inglesas coloridas da Era Vitoriana – Comissionado pelo secretário da delegação Britânica no Brasil, William Gore Ouseley (19791866), no começo do reinado da Rainha Victória, o artista J. Needham desenhou belíssimas vistas do Rio de Janeiro e Salvador, hoje muito raras. Dimensão média: 60cm x 70cm.
– Entrada do Porto do Rio De Janeiro – Espetacular panorama com toda a configuração da Baia de Guanabara. Litografia aquarelada assinada pelo artista alemão Franz Keller (18351890). Dimensão: 70cm x 110cm.
– Panoramas da cidade de São Paulo cerca de 1880 Uma raridade, pois São Paulo não foi um grande cenário para os artistas viajantes, que preferiam as belezas naturais de Rio de Janeiro, Bahia e da costa brasileira. Adquirida na Alemanha, o trabalho mostra a vista da cidade a partir de três pontos: Torre do Jardim Público, Rua do Gasômetro e Jardim do Palácio do Governo. Os créditos são do editor Hugo Bonvicini e do estabelecimento gráfico V. Steidel, um dos primeiros litógrafos e fotógrafos da cidade, pioneiro nos cartões postais sobre São Paulo.
A mostra Old Prints cobre o período entre os séculos XVI e XIX e serve como uma aula de história do Brasil, pois ali estão os índios na natureza, as relações entre escravos e senhores, a indumentária da época do Império, a incrível beleza de formas do litoral brasileiro, festas populares ou na aristocracia. Tudo visto com o olhar desses artistas europeus que viajavam integrando as missões artísticas, científicas e exploratórias cujo trabalho resultou em documentação tão reveladora e importante quanto a escrita cartas, jornais, livros.
Os mapas antigos revelam o mundo como era visto ou previsto por artistas cartógrafos que, extremamente precisos para o conhecimento da época, ajudaram a traçar o caminho a ser percorrido por navegadores em busca de aventuras, comércio e descobertas.
O curador, colecionador e marchand Dominique Baechler, nascido em Genebra, neto de antiquário, comenta que no começo do século XIX, a Europa estava devastada pelas revoluções e as Guerras Napoleônicas e voltava seu interesse para o Brasil que era visto como um paraíso de beleza, fartura, possibilidade de grandes negócios. Por isso, as missões eram patrocinadas pelos soberanos e traziam cientistas e pesquisadores de ponta, como os alemães Karl von Martius e Johann von Spix comissionados pelo Rei da Baviera e responsáveis pelo extraordinário estudo Flora Brasilienses. A comitiva holandesa de Maurício de Nassau trouxe artistas como Frans Post e Albert Eckhout; a expedição do Barão alemão Von Langsdorf, embaixador do Czar da Rússia, tinha Rugendas. Debret veio com a Missão Artística Francesa (que incluía ainda o pintor Taunay, o arquiteto Grandjean de Montigny e o escultor Marc Ferrez), solicitada por D. João VI, e tornou-se professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e pintor oficial da corte de D. Pedro I. Pode-se dizer que a primeira metade do século XIX é uma época de ouro da arte no Brasil.
Dominique Baechler se formou em história da arte e trabalhou com um expert de renome internacional, Pierre Bouffard, diretor conservador do Museu de Arte e História de Genebra. Muito cedo, Baechler iniciou sua própria coleção de gravuras e mapas antigos originais. Apaixonado pelo seu trabalho e pelo acervo de mais de 2500 gravuras e mapas antigos originais, ele confirma que essas peças são cada vez mais raras de serem encontradas no mercado internacional. Hoje quase tudo que foi criado entre os séculos XVI e XIX pelos artistas europeus que vieram para o Brasil pertence a museus e colecionadores particulares. É muito difícil achar na Europa trabalhos importantes. A tal ponto que atualmente marchands europeus e americanos me procuram em São Paulo para comprar obras desse período para seus clientes, exatamente o oposto do que ocorria até alguns anos atrás.
A dificuldade em encontrar as obras desse gênero em bom estado o papel é delicado e perecível faz com que a valorização desses trabalhos seja impressionante. Em 10 anos, o preço das gravuras e mapas antigos originais de procedência e legitimidade comprovadas, como tudo que é exposto em Old Prints, cresceu cerca de 20 vezes, atesta o colecionador, que tem uma rede internacional de contatos de marchands e colecionadores particulares. Um trabalho extraordinário como o Forêt Vierge du Brésil, de Clarac, do qual só existem cinco ou seis peças no mundo, foi comprado há muitos anos de uma família da aristocracia francesa e só agora é colocado na exposição Old Prints.