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O pêndulo de Macunaíma

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Carlos Franco

A modelo Gisele Bündchen desfilou na noite de ontem, dia 8 de janeiro de 2008, na passarela do Fashion Rio, atraindo olhares, arrancando suspiros e aplausos. E mais: abrindo espaço para a mídia gratuita – nas emissoras de televisão, de rádio, nos jornais, nas revistas e na internet (mea culpa: até na nossa revista digital) – exatamente como a Colcci espera.

Afinal, tem sido assim ao longo dos últimos anos, numa repetição dessa estratégia de marketing que é so chamar a Gisele, que o espaço na mídia e o público estão no papo. E mesmo que a modelo não queira mais saber do brasileiro real ou do americano dólar, seu cachê ainda é modesto perto do que rende, especialmente se comparado ao custo que seria comprar esse espaço na mídia. Tanto melhor que ele venha de graça e editorialmente, que dá mais credibilidade. E o que tem essa modelo?

Ela é linda, é verdade. Tem simpatia. E só. Não pergunte nada para a moça – suas frases (frases, o que é isso mesmo???) são monossilábicas, mas Gisele faz sucesso e isso basta.
 
Uma bela contradição ou seria sinal dos tempos? De Carmem Miranda, o Brasil e os brasileiros exigiam mais. Ela tinha de falar o português (corretamente diga-se), pensar em português, ter visão e opinião da cultura e no mesmo diapasão da mulher de César, parecer ser inteligente. Ela fazia enorme sucesso no exterior e os rios de dinheiro que ganhava lá fora – o que ganha Gisele Bündchen é coisa de pé de chinelo perto do que ganhava Carmem Miranda do alto de seus altíssimos tamancos – a permitiram até comprar uma das maiores mansões de Los Angeles, que fora de Errol Flyn.

Carmem Miranda para infelicidade ou inveja de astros como Ginger Rogers, Fred Astaire, Greta Garbo e até o galã ícone do cinema americano Rodolfo Valentino, foi o maior salário de Hollywood em seu tempo. Nem importa que tenha perdido tudo e jogado tudo na lama, por depressão, infelicidade e homens inescrupulosos no caminho (vale ler o livro de Ruy Castro – e até Gisele poderia fazer um esforço, se é que consegue ler mais do que rasas páginas de um livro).

Então, me veio na hora do almoço, a pergunta: O que faz com que o pêndulo que cai favoravelmente a Gisele seja o mesmo que num passado não muito distante massacrava Carmem Miranda? O compositor Ary Barroso chegou até a compor música, em que Carmem dizia que não tinha voltado americanizada. Hoje, Gisele voltar americanizada parece elogio. Mães que sonham com futuro, educação e saúde para suas filhas, chegam até a comprar remédios para que percam aqueles quilinhos a mais. Até acham bonito quando vêem suas crias andando pela casa como potrancas desenfreadas a imitar os passos de Gisele.

De Carmem Miranda se exigia a ginga, uma delicadeza no andar. De Gisele, até os passos merecem aplausos – passos??? pode-se chamar isso de passos???. Então a resposta, embora simples, estava diante de mim.

Um amigo, desses que são o fruto do mundo fashion e clubber, rejeitou no almoço uma salada, devido à sua aparência, mesmo que preparada com bons temperos e bons produtos. Explico: devido ao sal, algumas folhas haviam perdido o viço, mas não o frescor. Ele me explicou que come a aparência, mesmo que o produto não seja lá essas coisas, aí entendi mais claramente o motivo que o leva a gastar uma nota para freqüentar restaurantes de gosto duvidoso, desses que habitam lugares como a Daslu e o Shopping Iguatemi, e que têm na aparência o seu forte. Ele é um típico representante dessa geração, onde a aparência tem mais importância que o conteúdo. O pêndulo de Macunaíma parece ser esse nos dias que vivemos hoje. Então, vamos comer Gisele. A Colcci agradece. Bom apetite.

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