O TERCEIRO ATO SEGUNDO FREDERICO DALTON

O ano é 2055. Mohamed se lembra da primeira nota de 100 euros que ganhou na vida e arrepende-se de não tê-la emoldurado. Está quase chorando. Que bobagem, Mohamed. Dinheiro é feito para se gastar. É que Mohamed está começando a envelhecer e ficando cada vez mais sentimental. E as memórias da guerra na Síria, da travessia do Mediterrâneo e de seus primeiros anos como refugiado de vez em quando o fazem ter as ideias mais estranhas.

Posso esperar até você envelhecer para publicar aquelas fotos que fizemos na praia de nudismo. Quando você estiver bem velha, vai gostar de saber que seu corpo maravilhoso está na internet para todo mundo ver. Entenderá que foi uma homenagem minha e não vai me processar. Sim, posso esperar. Até lá, terei você só para mim. Na minha coleção.

Cansados de verem os queridos alunos se despedirem a cada ano, um grupo de professores japoneses criou uma escola com o compromisso de que estudantes e mestres nunca se perderiam de vista. Eles deveriam se encontrar regularmente para seminários sobre os mais diversos assuntos e assim iriam envelhecer todos juntos. Na semana passada faleceu, aos 80 anos, o último destes alunos. Então, o único professor ainda vivo entendeu, aos 105 anos, que estava na hora de se aposentar.