A revista digital wwww.revistapublicitta.com.br externa a sua solidariedade aos familiares e amigos das vítimas do vôo da TAM JJ 3054 e dos funcionários da TAM Express que morreram com a colisão do avião Airbus 320 da companhia que derrapou e perdeu o controle no Aeroporto Interancional de Congonhas deixando um rastro de 179 mortes.
Não há palavras que possam silenciar a dor e a revolta desses familiares e amigos. Afinal, vidas foram tolhidas de forma abrupta e drástica. Eram pessoas que sonhavam, como todos nós, em realizar projetos, em viver em alegria e comunhão com seus iguais e até, que prove em contrário, inocentes de tudo o que faziam nessa caminhada, que é a vida, assim como todos nós. Gente absolutamente como a gente, que poderia ser eu ou você. Pessoas que todos os dias levantavam com a esperança incontida de que teriam um grande dia pela frente. É essa a missão que acabam por deixar aos que as amavam: a de que outros teçam a teia desses grandes dias com os quais sonharam.
Que amigos e familiares, portanto, criem asas para voar – isso mesmo, voar – por meio dos sonhos que plantaram e deixaram como legado, não os sonhos mesquinhos, aqueles carregados de ódio e vingança, porque destes as chamas haverão de apagar, mas daqueles de grandeza, de entrega ao outro e que, por meio do outro, ousaram e tentaram ser felizes.
É natural, nesse momento de dor e consternação, que se busque culpados, que se escolha um alvo para a tragédia. É da razão – ainda que irracional – e perfeitamente humana. Assim o é também natural que amigos e familiares se revoltem, pois é também absolutamente natural que se sintam abortados em projetos que teciam com os que se foram. Mas são exatamente esses projetos, que ainda tornarão viva a vida e a imagem dos que se foram, especialmente o sorriso das conquistas. E não será, portanto natural, que, agora, vozes se levantem – vozes políticas e midiáticas – pior ainda, oportunistas – para fazerem demagogia e politicagem.
Para quem, como eu, atuou sempre na grande imprensa, não será surpresa editoriais propondo privatização da Infraero, renúnica de um ou de outro, caça a culpados. Assim, alimentarão a cadeia de ódio e se sentirão com o dever cumprido, como se se também, um dia, não deixassem a outros o legado dos seus sonhos, e esse legado só será o legado justo quando de fato for o dos sonhos, não os da mesquinharia com a qual muitos acreditam ser a melhor fatia de suas vidas, o pedaço que haveriam de deixar e os melhores editoriais que produziram ou hão de produzir.
Afinal, nesses editoriais provarão a tamanha mediocridade do que são, quando, por exemplo, depuseram presidentes eleitos pelo voto em países vizinhos, crentes que caíram no dia seguinte, ou quando, criticando o autoritarismo, o defenderam, com unhas e dentes, como se fosse preciso matar os menos desfavorecidos para que vivessem em paz. Como se o Eldorado de Carajás ou o Carandiru não fossem responsabilidade de todos nós, mas apenas dessa plebe rude e desse andar de baixo que quer ser alguém – que é aliás a própria essência humana – ser alguém para outro alguém, não importa quem. Agora, como vestais, alguns vão escrever lindas palavras, carregadas de ódio, que alertarão que isso poderia acontecer, que demorou, como se a miséria a que muitos estão relegados e também a revolta e o ódio – para o qual pedem a polícia – não fosse fruto desses mesmos pernósticos editoriais. Podem ler para crer. Esse sim é um desenho já riscado nos alfarrábios, nem precisa ser profeta para profetizá-los.
É o legado de ódios e revolta que cria e instaura o pre-conceito e o retro-alimenta. O bom é acordar de manhã e saber que revolta e raiva passarão, para saudar o poeta gaúcho Mario Quintana – morador que foi e amante que foi da Porto Alegre de onde partiu o abortado vôo JJ 3054 da TAM em direção a São Paulo na terça-feira, dia 17 de julho de 2007. E, assim passarinhão (ele dizia eu passarinho) todos os que se foram e aqueles que deles assumirão o projeto de dias de melhores, de sonhos de ternura e alegria.
Nesse momento, como diz a mitológica lenda egípcia, muitos se tornarão Isis, procurando juntar os pedaços dos que se foram. E os pedaços, Isis _ a deusa mitológica o provou nas lendas – só se unirão pelo afeto e o desejo que os sonhos de Osires e de todos os que partiram se realizem. Por isso, são necessárias as asas para sonhar. E que antes da saudade, que Chico Buarque – o mais completo e brilhante compositor de música popular brasileira – descreve tão bem, tome conta, é preciso náo levar consigo – tanto amigos como familiares – a mortalha do amor, mas a esperança de que esse amor que uniu a todos os atingidos se propage em novo amor, se irradie.
Que o pedaço que se desprendeu possa, assim, ser recomposto. E oxalá todos tenham um dia melhor, de reencontro de sonhos capazes de estancar a dor. E de ressureição, reencarnação, reencontro e vida. Não importa o credo, a vida segue. E que os sonhos não morram jamais, os nossos e os dos que foram e, agora, os deixam como legado.
A todos, instintamente, a nossa solidariedade.
Carlos Franco
Editor