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A alma de Jeca Tatu impressa nos almanaques

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José Maria Vergueiro é mineiro, daqueles de fala mansa e modos educados. Pai de cinco filhos, todos homens como gosta de enfatizar, e avô de mais de 20 netos e 10 bisnetos. Mora num sítio próximo a Patrocínio, no Triângulo Mineiro, e tem como hobby a coleção de antigas peças publicitárias, do tempo dos Almanaques. Tem a coleção quase completa do famoso Almanaque Fontoura – “só ficou um pouco desdentada porque quem pega emprestado nem sempre adevolve” .


Ele gosta de falar da publicidade de um tempo em que o Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato, aparecia nas páginas do almanaque nos desenhos educativos do “Jecatatuzinho”, uma espécie de alma, pobre e penada, do brasileiro. Era com esse personagem que Lobato e o famoso laboratório Fontoura educavam o brasileiro sobre questões de higiene.


Esse tempo que passou ainda está vivo na memória desse mineiro e na sua estante de madeira coberta por plástico – “para não pegar poeira” – onde guarda o almanaque. Seu Zé é bom de prosa e gosta de ficar horas falando dos astros da propaganda desse tempo.
Valeu o bate-papo que a Revista Publicittá traz em resumo.


 Detalhe: ele ficou aborrecido com a Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que ele nem sabe o que é, mas foi informado de que foi a responsável por dar fim ao Biotônico Fontoura. Explica-se: Em abril de 2001, a Anvisa publicou no Diário Oficial portaria determinando que as empresas produtoras de fortificantes retirassem o etanol (álcool etílico) das fórmulas de seus produtos. Com isso, a venda do Biotônico Fontoura, com a fórmula antiga, dos tempos do Seu Zé, acabou proibida. “Um absurdo, por isso essas crianças de hoje não têm nenhuma resistência, parecem ter ossos podres e fôlego de rã, que não consegue driblar o bote de cobra”.


O que o levou a colecionar almanaques e ainda hoje folheá-los, com prazer quase de criança?

Esses almanaques, em especial os do Biotônico Fontoura, têm sabor de infância. Era uma propaganda muito mais interessante que muitas que estão por aí. Era uma propaganda que ia direto ao ponto, no busilis da questão: falava direto do problema e oferecia uma solução. Eu nasci em 1938, e um dos grandes ídolos de minha geração, caipira, de interior, foi Mazaroppi. Eu não perdia um filme e o almaque trazia também novidades, informação e muita notícia sobre os ídolos e até receitas daquilo que víamos no cinema. Até hoje quando folheio o Almanaque fico com saudade desse tempo. O desenho do Jeca Tatu tá colado na minha memória.

E o que acha hoje da propaganda?

Não acho muita graça não. Tem muito desrespeito. Ninguém explica direito o produto e para que serve, deixa tudo no ar. Na minha época se falava o nome das coisas, e explicava tudo. Eu num lembro mais como era, mas tinha uma propaganda do lacto purga, que ia direto ao assunto, sem dar voltas. O Biotônico Fontoura era mais chique, mostrava gente forte, bonita, para falar da importância do fortificante e o Jecatatuzinho, em desenho, acaba mostrando tudo que pode e num pode ser feito.

Mas esse é um Brasil que passou…

Passou nada, nada. Outro dia mesmo apareceu aqui no sítio umas crianças que estavam com lumbriga. No rádio, diz que tem gente ainda morre de tuberculose, eu perdi um tio com a doença. Mas faltava informação. Falta o Jecatatuzinho para mostrar o que pode e o que não pode. A propaganda dos almanaques era muito mais educativa, hoje parece que só querem mostrar um mundo colorido, bonito, mas que não existe, não senhor. Eu fico com meus almanaques. Eles têm alma.


A alma a que se refere Seu Zé é a visão desse povo pobre, muito vezes ignorado. E os almanaques, como mostra sua coleção, têm cara de povo e tinham um vínculo com atividades culturais, de rua, de cirandas, que parecem esquecidas na era digital em que vivemos.

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