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GABRIEL, A DIGNIDADE DA RAINHA MENINO DE DUBLIN - Revista Publicittà GABRIEL, A DIGNIDADE DA RAINHA MENINO DE DUBLIN - Revista Publicittà

GABRIEL, A DIGNIDADE DA RAINHA MENINO DE DUBLIN

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A história do brasileiro de vinte anos que trabalha como drag queen na Europa e resiste ao assédio da prostituição nas lentes do fotógrafo Léo Pinheiro, que disponibilizou o texto de Gabriel Ferreira, a personagem Angelinna Lovelace em Fotos Públicas ao qual Revista Publicittà agradece a parceria. “Sou gay desde o útero e isso é natural para minha família. Nunca me questionaram, me policiaram ou tentaram ‘me corrigir’. Eu gosto do meu corpo. Eu me sinto bem com meu gênero. Sou homem. Não tenho vontade de ser mulher, mas sou drag queen.” É desta forma que Gabriel Ferreira se apresenta. O paulista que hoje mora em Dublin, capital da Irlanda, viajou para a Europa com o objetivo de aprimorar o inglês e nos palcos irlandeses deu vida à personagem Angelinna Lovelace.

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Por Gabriel Ferreira (depoimento a Léo Pinheiro)

Estou aqui há um ano e meio. Não sabia o que fazer quando terminei o colegial. Fui fazer faculdade de Relações Públicas em Santos. Me perdi na faculdade. Minha família sempre me deu liberdade para tudo. Drogas e sexo, sempre foram conversados. Nunca foi tabu na minha casa. Mas de repente aquele ambiente de faculdade eu me vi mais livre ainda e não deu certo. A faculdade não era o que eu queria e tranquei.

Então comecei a pensar em sair do Brasil, viver fora. Resolvi vir para Irlanda, já falava inglês razoavelmente bem, vim só para aprimorar o idioma. Mas foi aqui que a minha drag apareceu com mais força. Ela nunca foi uma válvula de escape para mim. Eu faço tudo que quero e tenho vontade, inclusive ser drag queen. Minha drag é uma personagem. Ela apareceu primeiro quanto eu tinha entre 17 e 18 anos. Mas nunca profissionalmente. Nunca montei a Angelinna Lovelace pensando em ser profissional. Ela era uma brincadeira, e uma brincadeira bem esporádica.

Em Dublin, ela surgiu como uma profissão. Foi aqui que eu levei a Angelinna a sério e comecei a usa-la como um catalizador da minha arte. Nunca havia trabalhado na vida. A Angelinna é meu primeiro emprego. E tenho muito orgulho disso. Acho muito legal ter nela minha profissão, principalmente para desfazer um ideia que as pessoas tem sobre as drag em geral. Eu me apresento hoje em um dos principais palcos da cidade. Todas às quartas eu mostro para o público a Angelinna, e isso é algo que me enche de orgulho, pois não é qualquer um que hoje pode fazer um show como eu faço.

Ela é uma personagem extremamente sexual, com muita força no palco.

A Angelinna tem uma performance de palco extremamente sexual. É comum ser assediado. Aqui não existe uma figura do cafetão, ou o agenciador, como é comum no Brasil. Eu apresento meu show em um pub, um pub gay, mas não é um lugar para se fazer programa. Não é a intenção da casa. Mas sempre existem algumas pessoas que confundem a minha arte. Dublin é uma cidade muito turística, tem gente do mundo inteiro, e gente com muito dinheiro. Todo final de show vem sempre um ou outro, e começa a conversar comigo. E você percebe logo que é uma conversa estranha sabe?. Tem um jeito diferente de elogiar… uma coisa meio querendo te induzir misturado com uma conversa de veludo para te seduzir. Eu despacho logo. Mando ir direto ao ponto. Se vier oferecendo dinheiro ou perguntando sobre programa, falo que não, mostro que fico ofendida e saio andando. Ali é a Angelinna que está presente, mas mesmo que fosse o Gabriel seria um não, e um não ainda maior talvez. Não gosto e não quero.

Em Dublin tem prostituição. Como em qualquer grande cidade. Basta abrir qualquer site de acompanhantes aqui para perceber que eles amam a transexual brasileiro. Mas eu não sou trans, eu sou o Gabriel e a Angelinna é só uma personagem. Não quero ceder ao dinheiro. Não preciso. Ok, meu personagem é sexual demais. Ela é uma fantasia de caras que veem meu show. Mas eu não sou uma peça de carne para ser comprada. Eu vim para ser artista. Quero que comprem minhas ideias, meu show e não meu corpo.

Já recebi propostas tentadoras de usar meu personagem para outros meios que não eram o de me apresentar em um palco, entende? Já tentaram me seduzir com dinheiro, enfim, quiseram que eu fizesse a Angelinna virar uma prostituta. Quando eu digo que é muito pesado o assédio é verdade. É tentador? É. Receber €700 por um programa de uma hora é algo que mexe com qualquer um, mas não foi para isso que vim para cá. Eu vim aqui para evoluir, quero fazer uma faculdade aqui, muito provavelmente uma faculdade de artes cênicas. Venho de uma família ótima, meus pais têm condições de me ajudar muito e sei o quanto isso é valioso.

Tem até uma situação engraçada: Eu tinha treze anos, era uma fase que as coisas ficavam mais evidentes. Queria me assumir. As pessoas esperam que você saia do armário. Eu odeio este termo armário e nunca estive no armário. Então fui conversar com a minha mãe: Mãe, eu preciso contar uma coisa para você. Meu Deus Gabriel. O que houve? Mãe… Eu não gosto de menina. Eu gosto de meninos. Eu sou gay. Gabriel! Todo mundo sabe disso! Você quer me matar do coração? Achei que era droga. Toda nossa família sabe que você é gay! Não tem problema nisso. Pelo amor de deus! Você tem que ser feliz meu filho. Mas mãe, não conta para o meu pai. Filho! Todo mundo sabe, se você quiser contar para seu pai, só não faz este drama para não preocupar ele.

Sei que o que estou vivendo hoje com vinte anos, é algo muito forte. Meus pais virão em breve para cá, e pela primeira vez vão poder me ver atuando. Eles nunca viram a Angelina no Brasil, mas tenho certeza que irão adorar. Graças a eles estou aqui, consigo viver com a minha arte, vim para ser artista, e é isso que sou hoje.

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