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QUANDO UM MURO SEPARA, UMA PONTE UNE - Revista Publicittà QUANDO UM MURO SEPARA, UMA PONTE UNE - Revista Publicittà

QUANDO UM MURO SEPARA, UMA PONTE UNE

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Por Marcos Napolitano*

A unidade latino-americana é uma fantasia sem consistência ou um projeto político e cultural confrontado com a dura realidade fragmentada do continente? Nos dias de hoje, começo do século XXI, esta pergunta ainda divide opiniões. Nos anos 1960 e 1970, período analisado por este livro, também dividia, em meio a um clima político ainda mais radicalizado. Naquele contexto, projetos de desenvolvimento autônomo conviviam com ditaduras militares reacionárias e perspectivas revolucionárias inovadoras. Em todos estes projetos, a América Latina ora surgia como uma região vocacionada para a unidade, ora como um retalho de nações sem comunicação entre si.

Uma coisa era inegável: os problemas eram comuns, passando pelo “subdesenvolvimento”, desigualdades sociais, superexploração pelas potências capitalistas e fragilidades institucionais de diversos tipos. Podemos dizer que os sonhos e projetos de unidade, ao menos no campo das esquerdas, se alimentavam destes problemas comuns, que deveriam ser enfrentados em conjunto pelos “progressistas”. Era assim que a história deveria ser, mas, como todos sabem, não foi. Se a unidade política das esquerdas sempre foi um desafio, apesar do suposto modelo latinoamericanista dado pela Revolução Cubana de 1959, os projetos de unidade cultural foram efetivos e vigorosos, principalmente no cinema e na música popular.

Nestas duas áreas artísticas, havia uma “nuestra América” delimitada, uma cartografia afetiva, estética e cultural que funcionava como uma espécie de bildung de todo jovem latinoamericano que queria ser engajado e libertário. O livro de Caio Gomes analisa as conexões estabelecidas pelos músicos latinoamericanos – estéticas, comerciais e políticas – na busca da efetivação da “unidade” continental que deveria preparar as consciências para a grande Revolução. Se os projetos revolucionários foram derrotados um a um, pela repressão e pelas suas contradições internas, restando apenas os ecos pálidos da Revolução Cubana, ficaram as canções.

O presente livro nos mostra como esta “música da unidade” também foi atravessada por fraturas e impasses diversos, apesar dos seus muitos momentos grandiosos. Desde a dificuldade em construir um idioma musical e poético comum para vários povos e etnias diferentes que formam o mosaico cultural do continente, até a dificuldade em expressar um caminho político convergente por meio da cultura. A partir de uma ampla documentação, inclusive de natureza fonográfica, o livro de Caio Gomes é um exemplo de uma historiografia que valoriza o objeto, sem ser nostálgica ou cínica.

*Marcos Napolitano
Departamento de História (FFLCH/USP)

Sobre o autor: Caio de Souza Gomes é bacharel, mestre e atualmente doutorando em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Desenvolve pesquisas sobre as conexões estabelecidas entre os músicos latino-americanos engajados durante as décadas de 1960 e 1970.

Livro: Quando um muro separa, uma ponte une
Autor: Caio de Souza Gomes
Edição: Alameda (11 3012-24003)
Preço: R$ 56,00 (p. 224)
ISBN: 978-85-7939-324-2
Formato: 16 x 23- Brochura- 0,305 kg

Texto originalmente publicado no Painel Acadêmico da Alameda Editorial, onde o livro pode ser adquirido.

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