Ser ou não ser “duang”, eis a questão. A célebre frase do bretão William Shakespeare nunca esteve tão em voga entre os asiáticos como neste início de ano. É que essa expressão inexistente está de novo em cartaz com a remasterização de um clássico da propaganda chinesa, que, agora, se tornou viral e que foi extraída da apresentação frenética, digamos assim, do shampoo Bawang por Jackie Chan. Marcas que atuam no cobiçado mercado chinês, a exemplo de PepsiCo, China Eastern Airlines, Durex, KFC e Taobao pegaram carona em ” duang” e a tornaram ainda mais popular.
O CLÁSSICO REVISITADO
O CLÁSSICO
POR YUME IKEDA, DE TOKYO
O filme estrelado por Jackie Chan, que aparece com cabelos como os da Iracema de José de Alencar, “negros como as asas da graúna”, é imbatível. Ele fala rápido (muitoOOOO rápido) e não há quem não ache graça. E o faz para descrever as qualidades do shampoo Bawang, entre as quais o chamado efeito “duang” de manter a cor impecável, com fios sempre macios e brilhantes. Sendo assim, duang é um efeito que os homens devem procurar na compra de um shampoo. Tanto que no filme remasterizadoo como no clássico do passado é essa expressão inventada o ponto alto também para os chineses, pois gruda e não desgruda da memória, o que é típico de comunicação comercial popular.
Se as mulheres asiáticas são reconhecidas em todo o mundo como grandes consumidoras de cosméticos e produtos de beleza, o mesmo definitivamente não se aplica aos homens, sobretudo quando se trata de cuidados com o cabelo. Eles têm, em sua maioria, cabelos de fios finos, lisos e pretos que custam a perder a cor, passando a grisalhos, o que lhes emprestaria um certo charme extra, digamos assim, a exemplo de George Clooney. Então, a indústria de produtos voltados para a beleza, com foco masculino, tem de buscar sempre incutir que estes não perderão a masculinidade ao usarem produtos como shampoos e cremes.
A escolha de Jackie Chan, um homem a que todos admiram pelos filmes e a brilhante resistência com o passar dos anos, foi mais do que acertada, uma fórmula de sucesso. Tanto que, agora, é amplificada como fenômeno viral nas redes sociais. É um belíssimo case. Aliás, os modernos adoram desafiar aquilo que é pasteurizado, por isso amam esse caldeirão de cultura pop da comunicação popular como Bawang (não é muito diferente daqueles anúncios de cogumelo do sol que passam nas televisões brasileiras e que têm diagramação similar de embalagens). É com este tipo de filme comercial que os mais jovens e também os mais modernos desafiam a publicidade asséptica do ocidente e, assim, angariam mais do que simpatia de quem as vê como também boas gargalhadas. Só isso basta e fica a dúvida: to be or not to be duang. That is the question. É. É sucesso. Não há dúvida nenhuma como a de Hamlet.
